Entrevista - Marcio Beck



Quando que saiu publicado o seu primeiro artigo sobre cervejas na imprensa (O Globo ou outro veículo)? 

Sou jornalista profissional há quase 12 anos, mas comecei a escrever sobre cerveja no ano passado. As oportunidade de escrever a respeito do tema para jornais, até agora, foram muitíssimo esporádicas. Minhas funções de fato dentro dos veículos em que trabalhei foram (e são) outras. 

Minha primeira reportagem - destaco "reportagem" devido à diferença entre esta, que é factual, e o artigo, que é opinativo - creio que tenha sido publicada em maio de 2011, no Jornal do Commercio. O tema foi a visita do vice-presidente da Brewers' Association, Bob Pease, ao Brasil, e as tentativas dos cervejeiros americanos de enviarem suas bebidas ao Brasil, se deparando com a alta carga tributária e os problemas de logística característicos do país.  



Você também escreve sobre o mercado de vinhos, outras bebidas ou gastronomia? Além de cerveja quais temas você cobre como jornalista? 

Não escrevo sobre vinho nem sobre gastronomia. E não pretendo fazê-lo. Minha paixão é mesmo cerveja. Como repórter, comecei escrevendo sobre crimes e assuntos de cidade (obras, acidentes, trânsito), que é a melhor escola de reportagem que existe. Depois esportes, política e finalmente, economia, editoria em que trabalho hoje. Atuei um pouco como chefe de reportagem (responsável pelas pautas de parte das seções do jornal e por orientar repórteres) e passei a editor, em seções de cidade, política, tecnologia, pequenas e médias empresas, carreiras e gestão de empresas. Voltei a ser repórter este ano, e desde então cobri IBGE (indicadores econômicos), setor petrolífero, mineração, BNDES e aviação.



E em blogs cervejeiros você escreve há quanto tempo? Para você quais são as diferenças entre escrever para jornais e revistas e escrever em blogs? 

Comecei o blog (www.700cervejas.com.br) em 23 de julho do ano passado, mas com uma ideia completamente diferente da atual, o objetivo era fazer textos sobre as degustações misturado com a história das cervejarias e um pouco do processo cervejeiro, com base em um guia de rótulos (Great Beers, de Tim Hampson), que ganhei da minha esposa. Logo decidi aprofundar a pesquisa sobre os blogs, e descobri que o número de blogs com proposta similar era grande. Logo, me ocorreu de fazer o que faltava... um blog com caráter jornalístico de fato. Não apenas um replicador de notícias e de curiosidades, ou que fique anunciando os lançamentos, mas principalmente um gerador de notícias relevantes, de conteúdo próprio, exclusivo. Atualmente, tenho dois colaboradores, Daniel e Vinícius, um com formação em contabilidade e o outro em design, respectivamente.

Qualquer um pode fazer um blog, da maneira que der na telha, como se diz. Uma publicação formalizada, com personalidade jurídica, jornalisticamente responsável (tenho cada vez mais esperança de que surja uma no mercado cervejeiro brasileiro), se orienta por critérios técnicos. Não pelo que dá na telha de quem escreve, nem por outros interesses - comerciais, pessoais, etc - muitas vezes não declarados. As sugestões de pauta são rigorosamente avaliadas por profissionais com muitos anos de experiência. O nível de exigência é completamente diferente, sem contar a pressão do tempo - o prazo - e do espaço, ou melhor, da falta dele. As reportagens publicadas em veículos impressos de toda maneira obedecem à analogia do iceberg. Via de regra, os leitores veem uma uma pequena "acima. O restante, por uma série de motivos - muitas vezes, por questão de espaço -, fica de fora.

O blog tem ainda um componente de militância, um tom mais apaixonado. Criamos blogs para dar vazão aos nossos interesses. É coisa que o jornal não comporta, pois busca atender ao princípio da objetividade e aos interesses dos leitores. O texto também muda, claro, o jornalismo tem suas convenções que o blog pode subverter. 



Quais são suas principais fontes de informação sobre o mercado cervejeiro? 

É preciso desmistificar a questão da fonte. O fator principal para um bom repórter é a curiosidade. As fontes são o meio para alcançar respostas para os questionamentos do jornalista. Fonte pode ser qualquer um. Porteiros, motoristas, secretárias, garçons, pessoas que no dia a dia são tratadas pelos mais poderosos como praticamente invisíveis muitas vezes podem ser melhores fontes do que oficiais graduados do governo e nomes importantes do setor privado. 

Fonte é quem transmite uma informação da qual tem conhecimento inequívoco (espera-se). Só que as fontes têm suas próprias motivações. Sempre que alguém transmite uma informação destas, algum motivo existe. E, na ampla maioria dos casos, a experiência prova, as motivações não são o melhor interesse do público. É preciso avaliar muito bem o que cada fonte está transmitindo e por que. Senão, você vira apenas massa de manobra, um assessor de imprensa ou de marketing involuntário, um cabo eleitoral... não um jornalista. 

Não é uma pergunta que qualquer jornalista que dê valor às aulas de técnica de reportagem vá responder a você diretamente, sinto muito. Posso dizer (o que é bastante evidente nos meus trabalhos) que tenho grande apreço pelas fontes documentais. Elas também não são infalíveis, mas no meu entender oferecem uma base mais concreta para então orientar a apuração, buscar as fontes mais adequadas e abordá-las da maneira mais adequada. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário