sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O estado da cerveja paulista




Já fazia um bom tempo que toda novidade cervejeira empolgante no Brasil vinha de outro estado que não o meu, São Paulo. Mas isso tem mudado nos últimos meses, ou pelo menos agora eu tenho me entusiasmado mais com as movimentações e os novos lançamentos em terras paulistas.
Algumas semanas atrás acompanhei o David Michelsohn, da Cervejaria Júpiter, em uma viagem para Serra Negra/SP, onde ele iria realizar o dry-hopping do novo lote da deliciosa Júpiter American Pale Ale, que é fabricada na Cervejaria Dortmund. Durante a viagem comentei com o David que eu havia achado muito interessante a matéria publicada na revista sãopaulo, da Folha de São Paulo, sobre o mercado de cervejas artesanais no estado. Matérias como essa têm sido publicadas aos montes, eu sei, mas o que me chamou a atenção nessa, em especial, foi que os personagens da matéria são todos novas figuras nesse mercado. Ninguém da velha guarda do mercado de "cervejas especiais" foi citado. Nada de Colorado ou Bamberg, Beltramelli ou Saorin, que costumavam ser destaque em qualquer texto da imprensa sobre o novo mercado cervejeiro. Na matéria da sãopaulo os personagens foram a Júpiter e os irmãos Michelsohn, o pessoal da cerveja Son of a Beer e o André Cancegliero, representando a Cervejaria Urbana e o Beer Experience. Todos novatos no mercado, com ideias frescas e sem caretice.



Chegamos na Dortmund depois de três horas de viagem e logo fomos apresentados ao novo mestre-cervejeiro da casa. O Fernando, que assim como o seu antecessor Victor, trabalhou na Cervejaria Nacional, tinha assumido o posto havia poucos dias mas já demonstrou total domínio da situação e estava empolgado com o hop-tea, que serviria como uma nova injeção de lúpulos frescos nas cervejas. O entusiasmo do mestre-cervejeiro vem bem a calhar, pois lá na cervejaria de Serra Negra estão sendo fabricados alguns dos novos lançamentos cervejeiros mais comentados do ano. Além da Júpiter American Pale Ale, é de lá que estão saindo a Biritis (cerveja do Mussum), a cerveja de trigo do João Gordo, além das cervejas das bandas Matanza e Korzus. Esse portfólio demonstra o quanto o Marcel, proprietário da Dortmund, está antenado as novas tendências do mercado. Ainda sobrou espaço, nesse meio tempo, para o Marcel lançar algumas cervejas com sua própria marca: a Dortmund White IPA e a Dortmund Old Ship Pale Ale. O que todas essas cervejas que saíram da cervejaria de Serra Negra tem em comum é serem representantes de um novo momento no mercado de boas cervejas. Se antes fabricar cerveja em uma pequena fábrica e tachá-la de artesanal já garantia alguma atenção, agora o mercado já amadureceu (pelo menos um pouco), e essa nova geração já sacou que o público interessado por cervejas quer receitas modernas e que é preciso dar muita atenção ao branding. Weiss e stout com raminho de cevada no rótulo não está levando nenhuma cervejaria paulista para a frente. E não é só a Dortmund que se deu conta disso, outras cervejarias de São Paulo também perceberam que apostar em jovens cervejeiros e receitas modernas pode elevar a cervejaria a um novo patamar. A Dama, de Piracicaba, já tinha percebido isso, e recentemente a Nacional perdeu mais um profissional para o interior, com a ida do Alexandre Sigolo para a Burgman de Sorocaba.

Enquanto me preparo para ir ao Beer Experience 2013, estou aqui pensando que cena cervejeira paulista atual tem dois perfis bem definidos, sobre os quais eu me posiciono claramente: Mais Júpiter e menos Karavelle, por favor.