quinta-feira, 14 de março de 2013

O efeito de um presente

Na semana passada eu ganhei 6 garrafas de cerveja da rede Mr. Beer. Um diretor da empresa me ofereceu a cortesia após eu ter feito alguns comentários demonstrando a minha frustração com o alto preço das cervejas de importação exclusiva deles. Aceitei sem hesitar, não sou louco de recusar cerveja boa e de graça, e mesmo após mais algumas considerações minhas por e-mail sobre o porquê da minha antipatia pelo Mr. Beer, me enviaram mais de 3 litros de boas cervejas. Desde já expresso minha gratidão pelo presente generoso.

Cerveja, quando grátis, é sempre mais gostosa e eu acho realmente difícil avaliar uma cerveja quando não paguei por ela, pois o critério de custo/benefício é o mais relevante no meu julgamento como consumidor. Eu até tenho uma ideia do preço dessas cervejas que ganhei, mas quando não pesa no próprio bolso a aplicação do critério de custo/benefício fica mais ideológico do que factual. Todas as cervejas que vieram no presente são boas, mas sem nenhum grande destaque. Não é difícil encontrar, no mercado brasileiro, cervejas similares, melhores e mais baratas do que essas exclusivas do Mr. Beer. As cervejas que ganhei foram: Epic Hopulent IPA, Epic Copper Cone Pale Ale, Epic 825 State Stout e a Epic Brainless Belgian-Style Golden Ale, além da Tereza Pilsen Extra Hop.




Se, com esse agrado, o Mr. Beer não conseguiu com que o blogueiro falasse bem da marca e de suas cervejas, ao menos fez com que eu refletisse melhor sobre a posição que eles ocupam atualmente no mercado. Eu não tenho interesse em fazer compras no Mr. Beer, basicamente pelos preços serem entre 20% e 30% mais altos do que os que encontro por aí em outras lojas e supermercados. Imagino que grande parte dos consumidores habituais de boas cervejas também deva saber disso. De toda forma esse fato não parece afetar a saúde do negócio, já que anunciaram o faturamento de R$30 milhões em 2012, segundo o jornal Valor Econômico. A análise dessa revista sugere que os principais concorrentes do Mr. Beer são os clubes de cerveja, fica mesmo evidente que eles não se sentem ameaçados pelas tantas lojas de cervejas, físicas e on-line, que abriram nos últimos tempos, geralmente com preços bem melhores. O público do Mr. Beer é outro, com padrão de consumo bem diferente do meu. É aquele pessoal que quer comprar uma cerveja diferente de vez em quando para fazer uma graça, dar um presente ou experimentar algo diferente do habitual, conhece pouco do mercado cervejeiro, não sabe ou não se importa de pagar um preço bem acima da média e aproveita a comodidade das lojas muito bem localizadas. Tenho que ser realista e reconhecer que este perfil de consumidor de boas cervejas sempre irá existir e negócios como o Mr. Beer e os clubes de cerveja sempre terão neste público o seu filão garantido. Afinal, o mercado das boas cervejas não para de crescer e tem espaço para todos, basta trabalhar direito.





sexta-feira, 1 de março de 2013

Chope, genuinamente brasileiro

O chope (ou chopp), essa entidade cervejeira genuinamente brasileira, é alvo de muita desinformação, apropriação indevida e mau uso. Diz o wikipedia que a origem do termo remonta aos alemães, via França. O termo também é muito usado em outros países latino-americanos, como Argentina e Chile, mas é aqui no Brasil que ele foi transformado em um estilo próprio de cerveja. Existem diversas definições diferentes para o termo chope, mas neste blog ele é usado unicamente para indicar a cerveja acondicionada em barril e servida extraída por pressão ou pela força da gravidade.

Antigamente a Brahma se denominava chopp  Até hoje a Brahma se denomina chopp, mesmo na garrafa (e mesmo pasteurizada),  e têm muitas outras cervejas em garrafa que se auto-denominam da mesma forma. Muito disso está baseado no conceito, meio esdrúxulo, que a cerveja não-pasteurizada é necessariamente chamada de chope, como se fossem dois produtos diferentes. Já li até que toda cerveja primeiro é chope, e apenas depois de pasteurizada passa a ser chamada de cerveja. Não sei de onde vieram essas ideias mas, para mim, toda bebida fermentada a base de malte pode ser chamada de cerveja. Recentemente li um comentário em um blog, onde o sujeito queria convencer a todos que "chope" indica um estilo específico de cerveja: aquela lager clara, leve, quase aguada, que costuma ser chamada vulgarmente de chope claro. Eu sei que os mais velhos e menos informados estão habituados àquele mundo ultrapassado, estável e bicolor, onde as variedades de cerveja se resumem à clara e a escura, o mesmo valendo para a patriarca da família, o chope, mas existem muito mais variedades do que isso, e você leitor, já deve saber muito bem disso.



Por todo país, o chope tradicional, lager, claro (e na maioria das vezes da marca Brahma) continua sendo servido como se essa fosse a única forma possível de chope. O seu serviço continua mantendo os mesmos velhos cacoetes, que infelizmente acabam sendo trazidos quando o profissional (o amigo chopeiro) vai trabalhar com outras variedades de chope. Além do barril armazenado à temperatura ambiente, hábitos como espumar o chope entornando parte da cerveja para uma bandeja, o uso de espátula para alinhar o colarinho, e principalmente o colarinho abundante são práticas do dia-a-dia, seja o chope Brahma, Bamberg ou qualquer outro.

Entre esses, há um tema que é sempre mais difícil de ser abordado, o intocável "colarinho". Mal compreendido por alguns, exageradamente glorificado por outros. O colarinho, formado pela espuma da cerveja, é obviamente essencial. Torna a experiencia tátil, visual e gustativa de beber um chope, mais agradável. Nunca deve ser negligenciado, mas o elogio ao colarinho não serve de desculpa para o exagero, que pode ser lucrativo ao comerciante que vende o chope, mas não para o consumidor. Afinal, a espuma é composta de um pouco de cerveja e muito gás,  assim o chope com colarinho enorme extrai menos cerveja do barril, que rende mais chopes. É muito comum por aí, ver chopes sendo servidos com colarinhos que tomam mais da metade do copo. Quando o colarinho baixa, fica evidente que tem menos cerveja no copo do que deveria, mas raramente o consumidor espera para ver.

Bar Leo e a escola do colarinho de 2/3


Por isso, lanço a campanha "No meu chope, colarinho de dois dedos". Sem negligenciar o querido colarinho, temos que estabelecer um limite de razoabilidade entre líquido e espuma para valorizar mais cada chope, afinal o preço do bom chope já está cada vez mais valorizado. Eu sei que dependendo do tamanho e formato, dois dedos representarão uma proporção diferente em relação ao volume do copo. Também sei que certos estilos de cerveja tradicionalmente permitem colarinhos maiores. Mas essa medida de dois dedos serve de parâmetro para a maioria dos chopes servidos por aí, Brahma ou outros, em calderetas ou canecas, de 350ml ou 500ml.
Entrando ou não na campanha, sugiro ao leitor que se sentir lesado por um colarinho como da foto acima, faça como eu: deixe o copo descansar na mesa por 2 minutos, e quando o colarinho exagerado baixar, peça para o garçom que complete de cerveja o seu copo.