terça-feira, 27 de agosto de 2013

Jogue mais lúpulo e chame de IPA

Quantos pints de Imperial IPA será que o indiano bebeu?


Eu gosto tanto de cerveja amarga que nunca teve uma que eu achasse amarga demais. E parece que não sou só eu! Seja no Brasil ou nos EUA, as cervejas com mais lúpulos costumam ser as preferidas dos neozitófilos, e a denominação IPA, que por muito tempo representou o estilo mais amargo de cerveja, foi alçada a ícone dessa nova geração.  Não vou perder o meu e o seu tempo recontando aquela ladainha sobre o surgimento das India Pale Ale. Mas é um fato histórico que a sigla IPA surgiu para  indicar uma cerveja com (um pouco ou muito) mais lúpulo do que as outras cervejas disponíveis no mercado. Até recentemente, o termo IPA também era garantia que a cerveja seria clara (mas não branca). Mas como imaginação não falta aos cervejeiros americanos (e aos cervejeiros brasileiros influenciados pelo jeito americano de fazer cerveja), hoje em dia qualquer tipo de cerveja pode ser transformada em IPA. Basta jogar um monte de lúpulos americanos a mais e pronto. Assim surge uma nova "Qualquer Coisa IPA".



Não me entendam mal, como escrevi no início do texto, adoro cervejas amargas e costumo gostar da maioria das IPAs, sejam elas pretas, brancas, session, imperial ou com frutas. Acho apenas que os cervejeiros poderiam guardar um pouco dessa imaginação que usaram para adicionar mais lúpulos americanos na receita e usá-la para escolher alguma nova denominação para suas cervejas lupuladas, que não use a sigla IPA.

Eu até entendo que, acima de qualquer questão linguística está a importância do marketing para as cervejarias. De nada adianta se preocupar em usar no rótulo da cerveja uma denominação de estilo coerente se isso não ajudar a vender a cerveja. A indicação do estilo da cerveja no rótulo é importante para auxiliar o consumidor a escolher qual cerveja comprar. O cara que já tomou e gostou de uma IPA quando voltar a loja vai procurar novamente pelo estilo nos rótulos das cervejas, e evidentemente espera encontrar dentro da garrafa alguma coisa semelhante ao que bebeu da vez anterior. Talvez nessa hora o significado da sigla IPA seja muito pouco relevante, desde que o consumidor tenha entendido que não se trata necessariamente de "india pale ale", mas de "mais lúpulo do que as outras".

barclayperkins.blogspot.com

Como as cervejas que levam "mais lúpulo do que as outras" , além de me agradarem bastante, fizeram sucesso e proliferaram por aí, aproveitei para fazer uma pequena pesquisa de preço, para me ajudar e ajudar aos leitores a fazerem melhores compras lupuladas. Há tantos rótulos e tipos de IPA atualmente no mercado que tive que fazer uma seleção arbitrariamente regionalizada (e levando em conta as minhas preferências pessoais, obviamente). A pesquisa de preços disponível no link a seguir elenca 20 IPAs (de vários tipos e cores), apenas entre americanas e brasileiras. A pesquisa foi realizada entre os dias 20 e 25 de agosto, em lojas de São Paulo. Para facilitar a comparação, a lista está organizada por preço por litro.

IPAs - preço por litro em São Paulo

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Os bares que eu gosto em São Paulo, mesmo sem chope



Depois da minha crítica a quase ausência de bons chopes brasileiros nos bares de São Paulo, alguns leitores deste blog tentaram contra-argumentar. Falta de boas cervejas locais e desinteresse dos cervejarias pelo mercado paulistano foram alguns dos argumentos utilizados, mas não acho que sejam argumentos que se sustentem. Se fica difícil para as micro-cervejarias enviarem seus chopes para outros estados, como é que o Boteco Colarinho, do Rio de Janeiro, consegue servir mais chopes Colorado (de Ribeirão Preto/SP) do que qualquer bar de São Paulo? Não parece que a distância tenha atrapalhado nesse caso. Será que a Colorado tem pouco interesse em vender seus chopes aqui na capital, preferindo enviá-los para o Rio? Também me parece pouco provável... Minha hipótese para a baixíssima oferta de bons chopes brasileiros nas torneiras dos bares paulistanos (tendo o Empório Alto dos Pinheiros como maior exemplo) é bem outra. O público paulistano é que está mais interessado nos chopes importados do que nos nacionais. Por que deveria o proprietário do EAP ocupar 20 torneiras do seu bar com chopes nacionais, que custam na média R$9 o copo, se ele consegue encher o seu bar de clientes dispostos a pagar no mínimo R$15 por uma taça de chope importado? Não é ele, o empresário, quem tem que se preocupar com a ideologia do "apoie a cervejaria local", isso é melhor deixar para os blogueiros. Até porque não parece que a maioria dos clientes,em São Paulo, esteja preocupada com isso. Bares especializados em chopes importados em São Paulo, são um mercado promissor. Tem até o tal de The Ale House, que mal serve uma cerveja nacional, mas tem uma carta invejável de cervejas belgas e outras importadas. Diz a "rádio boato" que bares das marcas estrangeiras Brewdog e Paulaner devem abrir em breve na cidade, enquanto isso, a única cervejaria brasileira que parece interessada nessa proposta é a Karavelle, o que vai acrescentar muito pouco, na verdade.

IPA no balcão do Boca de Ouro

As oportunidades para beber bons chopes brasileiros em São Paulo são quase nulas, mas isso não quer dizer que eu não goste de nenhum bar paulistano. Na verdade tenho dois prediletos, que frequento com certa assiduidade. Não só por serem perto da minha casa, mas também por terem, além de ótimas cervejas (nada de chope), aquilo que eu mais espero de um bar: ambiente acolhedor e personalidade.
O bar Boca de Ouro e o Empório Sagarana - Vila Madalena tem algumas características em comum, mas personalidades bem distintas. Nenhum dos dois incorre no erro bem comum dos bares daqui de negligenciar o balcão. O Sagarana tem um ótimo balcão de madeira, onde o papo com os simpáticos atendentes ou algum outro bebedor empolgado pode render umas cervejas a mais. No Boca de Ouro o balcão, de fórmica preta, é levado ainda mais a sério, afinal o bar mal tem mesas. Para beber lá é no balcão e ponto final.
A atmosfera do Sagarana - Vila Madalena se beneficia muito bem do imóvel no qual está instalado, uma antiga marcenaria, com largas portas em sequência e pé-direito alto. Dentro, o ambiente faz jus a temática proposta desde a abertura da matriz, na Vila Romana. É fácil se sentir bebendo em um velho empório perdido, situado na praça matriz que alguma pequena cidade mineira. Apenas as geladeiras high-tech e as cervejas importadas, que enfeitam as prateleiras de madeira, quebram a reminiscência de algum boteco de outrora.
No Boca de Ouro a trilha sonora é elemento central na atmosfera do bar. Soul e rock'n'roll do anos 70 também aparecem discretamente na decoração, de forma coerente, completando o ambiente semelhante a algum bar que eu nunca fui em Nova Iorque. Porém essa coerência termina no cardápio de comidas, mais compatível com o nome do lugar. No Boca de Ouro tem bolovo, rabada,torresmo e sanduíche de pernil. Dentro dessas contradições, há o bar mais legal da cidade no momento: arquitetura e trilha sonora de bar "cool", nome e comidas de "pé sujo". Isso porque eu nem falei das bebidas: além de drinks clássicos, que nunca provei, tem uma carta de cervejas resumida mas que dá conta de satisfazer, seja qual for a sua preferência.
Tem só mais uma coisa em comum entre esses dois bares que deixei para o final. Não é um programa barato ir beber cerveja nesses lugares, exceto se você se contentar com Heineken. Não consigo beber mais do que duas cervejas nesses bares sem sair com um vazio imenso na minha carteira. Mas isso também não é diferente em nenhum outro bar que eu conheça em São Paulo.


Fachada do Empório Sagarana - Vila Madalena