terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Muita cerveja importada, pouco chope local


Feliz 2013


Passados 14 meses desde que iniciei este blog, aproveitei a virada de ano para refletir sobre minhas ideias e sentimentos como consumidor de boas cervejas e sobre tudo que já escrevi por aqui, no twitter e em outras redes. Acaba sendo irresistível também dar continuidade a alguns temas que surgiram na enquete Melhores de 2012, do Blog do Bob.

A oferta de boas cervejas brasileiras no mercado paulistano cresceu a passos bem lentos em 2012. Talvez essa percepção seja devido ao fato do mercado de cervejas importadas ter crescido em ritmo muito maior, mas de toda forma, para quem quer novidades locais, foi decepcionante. Alguns lançamentos barulhentos de cervejas high-end, podem ter dado a impressão que o ano tenha sido promissor, mas para o meu consumo do dia-a-dia, em termos de cervejas brasileiras, quase nada mudou. No máximo incorporei as cervejas da Way Beer no meu portfólio pessoal, mas nem sempre estão disponíveis e nem o preço entusiasma tanto.

Falando nisso, esse deve ser o maior motivo da minha falta de empolgação com as boas cervejas nacionais, a falta de competitividade com as importadas. Sempre me pareceu óbvio que as vantagens de consumir as cervejas locais (ou pelo menos domésticas) seriam o preço e o frescor, mas infelizmente em nenhum dos dois critérios elas têm superado a concorrência internacional. Sejam cervejas de estilos alemães, belgas ou americanos sempre encontro boas opções importadas com preços mais interessantes que as similares nacionais. Mas e o frescor? Acabo reconhecendo que, mesmo vindo chacoalhando em um navio desde o hemisfério norte, muitas vezes as cervejas importadas estão em estado de conservação similar as nacionais. Talvez nem seja exatamente isso, talvez, mesmo tendo perdido parte de suas qualidades, muitas cervejas importadas ainda estejam em pé de igualdade com as nacionais.

Veja as IPAs, por exemplo: no último fim de semana fiz um pequeno teste. Tomei três nacionais na sequência (Três Lobos, Karavelle e Colorado) e depois uma americana (Sixpoint). As nacionais tinham alguns poucos meses de garrafa e a americana, prestes a vencer. Se a americana já não era a mesma de meses atrás, ela ainda assim foi a experiência mais agradável, com mais drinkability e algum resquício de aroma cítrico. Nas nacionais prevaleceram dulçor e amanteigado, com um amargor no final para justificar a alcunha de IPA. Tá certo que a Sixpoint é em lata e isso pode ter ajudado na conservação, afinal também tem muita IPA americana a venda por aqui, que mesmo dentro da validade, parece mais com água de bateria. Mesmo assim, é decepcionante admitir que a IPA mais velha e viajada ainda seja melhor.

Deve ser mais fácil ser otimista bebendo cerveja no Brooklyn
Logo me vem a cabeça o post "Cerveja viva ou morta?". Esse post repercutiu muito na época, muitos criticaram, mas poucos disseram abertamente o motivo pelo qual as cervejas importadas são mais resistentes que as brasileiras. Muitas cervejas importadas não são pasteurizadas nem micro-filtradas, não ficam sob refrigeração todo o tempo e mesmo assim permanecem boas por tanto ou mais tempo que as nacionais pasteurizadas. Tem até quem duvide da honestidade das cervejarias estrangeiras, que afirmam não pasteurizar suas cervejas. Isso eu não sei, mas também não duvido...

E que dizer de bom do mercado paulistano de bons chopes brasileiros? Quase nada! Outro dia fiquei feliz por ter entrado em um novo bar perto de casa que tinha chope Dama IPA em sua única torneira. É com isso que tenho que me contentar, enquanto fico babando com a oferta de chopes em bares de Porto Alegre. A diferença é tanta que, no dia que o Bob publicou meu voto nos Melhores de 2012, teve dono de bar gaúcho que soberbamente desqualificou o meu voto para Melhor Bar: "Nem chope tem!". Nem só de torneiras se faz um bom bar, mas se lá no sul dá certo, qual é a dificuldade aqui em São Paulo então? Será que em São Paulo há menos aceitação do público ou os comerciantes que são mais conservadores? Arrisco dizer que é a segunda opção. Mas também tenho a impressão que mesmo os bares que tentaram trabalhar com boa variedade de chopes não trabalharam o produto direito. Nem é apenas pela falta de câmara fria (que já é falha grave), mas também o atendimento. Bar que serve diversos chopes tem que dar prioridade para eles. Não ajuda nada ter um carta imensa de cervejas em garrafa com preços melhores.

Minha perspectiva pessoal para 2013 é pessimista assim: Muita cerveja importada, pouco chope local.