terça-feira, 22 de maio de 2012

O supermercado vai matar a loja de cerveja?

Os supermercados de São Paulo entraram de vez no ramo das cervejas boas. Na seção, que antes era disputada entre "lager mega A" vs. "lager mega B", agora o destaque está nos rótulos pouco conhecidos das ales artesanais e diversas importadas de qualidade. Os supermercados não entraram nessa onda só para se aproveitar da imagem sofisticada desse produto, estão realmente querendo disputar mercado. Os preços praticados pelos supermercados nas cervejas importadas e nas artesanais são, na grande maioria das vezes, melhores que qualquer empório ou loja on-line.

Um dia a gente chega lá. (foto: Brewtality)


Eu compro cerveja quase sempre em supermercados e os daqui da região não tem deixado a desejar na seleção de artesanais e importadas. Alguns meses atrás o Blog do BOB fez um censo completo do setor, que continua melhorando a cada semana.

Nós, consumidores, nos beneficiamos com isso, cerveja boa, mais fácil de encontrar e com bons preços. Quem não deve estar gostando são os donos de empórios e lojas de cerveja. Antes eles tinham o chamariz da exclusividade, agora estão em uma situação parecida com a do dono do mercadinho da esquina. Como resistir ao poder das corporações?

Eu sei que comprar cervejas em lojas especializadas tem suas vantagens. A seleção é ainda melhor que os melhores supermercados, o serviço é bem mais atencioso e, por vezes, especializado. Porém, cerveja boa é um troço caro e sei que muitos, como eu, não podem se dar ao luxo de abrir mão do melhor preço.

O situação já não é nada animadora para as lojas de cerveja, e tem um elo da cadeia cervejeira que tem jogado contra: distribuidoras e importadoras.Outro dia o dono de uma loja de cerveja me contou que havia comprado umas caixas de Guinness Draught e pagado R$5 a unidade, que seria um bom preço. Para a sua surpresa alguns dias depois ele descobre que o supermercado mais próximo de sua loja estava vendendo o mesmo produto pelo preço cobrado pelo importador. Com as cervejas nacionais não era muito diferente. Ele pagava no distribuidor pelas garrafas 600ml de cerveja Colorado quase o mesmo preço cobrado em uma outra rede de supermercados.

(Foto:Tim Boyle)


O poder econômico das grandes corporações varejistas é colossal e muitos produtores e distribuidores devem estar dispostos às maiores loucuras (leia-se descontos e bonificações) para entrar com seus produtos em uma dessas redes. Afinal, uma vez fazendo parte do portfólio de um supermercado, grandes encomendas virão. Mas esses intermediários não podem ignorar a importância dos pequenos e jogar contra. Primeiro porque ingratidão é feio e por muito tempo o mercado de cervejas boas se limitava às pequenas lojas, era desses comerciantes que distribuidores e importadores dependiam. Segundo e mais importante é reconhecer a importância que essas lojas ainda tem no mercado, principalmente pela difusão da cultura cervejeira. Na loja cervejeira consumidor compra com mais atenção e está mais aberto a provar novos produtos. A fidelização do consumidor passa, na maioria das vezes, pelos empórios.

A sobrevivência dos pequenos comerciantes de cerveja depende muito da capacidade que terão de se manterem competitivos num mercado muito sensível à variação de preços. Dá para ser competitivo quando distribuidor e supermercado praticam o mesmo preço?

6 comentários:

  1. Acho que o mercado de cervejas especiais finalmente vai começar a colocar os pés no chão em relação a preço. Muitas vezes trabalhamos com atravessadores que só servem para inchar o preço sem oferecer contrapartida, por isso a dificuldade de competição com as grandes redes de mercado. Isso vai ajudar muito marcas de grande entrada no mercado aberto, como Colorado e Bamberg, que só tem a ganhar.
    Já as marcas de produção menor, continuarão relegadas a lojas especializadas, mas por preços mais em conta ainda, justamente pelos atravessadores que comentei antes estarem atuando com uma faixa menor de lucro.
    A cultura cervejeira só tem a ganhar, apesar da massificação!

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    1. As lojas de vinhos sobreviveram, apesar da massificação via supermercados. O caminho foi parecido com o que você apontou, apostaram em rótulos menos conhecidos e mais sofisticados.

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  2. Só espero que nao aconteca com as microcervejarias brasileiras o mesmo que aconteceu com um amigo empresario. Nao vou citar nomes nem o ramo de atividade, por isso vou usar cervejaria como exemplo.
    Dono de uma microcervejaria, sempre vendia seus produtos pelos emporios e lojas especializadas. Quando uma oportunidade se abriu de vender em supermercado ele aproveitou, foram 3 lindos anos de faturamento alto e crescimento. Ate que um belo dia, esses grandes supermercados pararam de comprar dele, não compravam mais nem uma unidade. Ou seja, ele, ja sem os pequenos cliente, não tinha pra quem vender. Vendo seu negocio indo pro buraco, aceitou a oferta que a rede de supermercado fez para comprar seu negocio (pagando pouco, logico). É assim e de outras maneiras que as grandes redes conseguem produtos com sua marca!

    Espero de coração que isso não aconteca. Mas no meu ponto de vista é necessario dar maior importancia pros pequenos!

    Abraços

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  3. Acho que a entrada dos supermercados no mercado das cervejas pode ser bom para o consumidor.
    Como você mesmo disse a tendencia é que algumas cervejas tenham seus preços abaixados, facilitando a vida de nós consumidores, além do mais, há cidades, como a minha João Pessoa-PB, que não tem lojas especializadas em cervejas, minhas compras são feitas pela internet em sites de cervejas ou no pão de açúcar, que apesar de ter poucos rótulos de cervejas, tem boas cervejas como a Czechvar, a Colorado e a Bishops Fingers, além disso foi graças ao supermercado que tive o contato com essas cervejas especiais.
    Em relação as lojas especializadas, elas irão ter que mudar seu modos operanti para se adaptar ao novo momento do mercado, e não creio que elas irão desaparecer, até pq muitas dessas lojas especializadas, sobrevivem não só de cervejas, elas vende tbm cursos de degustação, comidas harmoniosas entre outras formas de faturamento.

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  4. A massificação deve ser vista com olhos mais atentos. Muitos puristas acreditam e defendem que o lugar onde compramos batata, maionese, iogurte, etc...não deveria ser o mesmo que encontramos bons vinhos e boas cervejas, e em alguns fatores eles realmente têm razão.

    Alguns pontos são bem interessantes e passam desapercebidos para a maioria dos consumidores:

    1 - Foto oxidação: Uma reação altamente indesejada e comum no mundo das cervejas. A luz provoca a volatilização dos óleos presentes no lúpulo, modificando aparência, aroma e sabor da cerveja. Você já viu um lugar mais iluminado que um supermercado? eles são os mestres na iluminação, afinal, o produto tem que estar bem visível, correto? What you see is what you get.
    As garrafas transparentes e verdes são sensíveis à esse efeito. Quando você tiver oportunidade de comparar uma Tripel Karmeliet de 750ml comprada em supermercado com uma em loja realmente especializada, veja a nítida diferença.

    2 - Promoções incríveis: Ok, você chega no supermercado e vê a DEUS dezenas de reais mais barata que em outros lugares. Bom, essa é a prática tradicional do supermercado: perto do fim da validade ocorre a mágica redução drástica de preços. Tudo bem se você estiver comprando um queijo, uma pizza congelada, etc...mas nunca uma cerveja especial. Como sempre diz Melissa Cole (maior autoridade de cervejas no Reino Unido): "Cerveja muito próxima do início da validade ou muito próxima do fim, passe longe". Se for a primeira vez que você experimentou a DEUS e você se seduziu pela oferta mágica, provavelmente e infelizmente você bebeu outra bebida.

    3 - Serviço: Esse tópico pode parecer frescura mas na verdade é bem sério. Provavelmente o funcionário que carregou o carrinho e abasteceu as gôndolas expositoras do supermercado é o mesmo que vai nos responder sobre alguma cerveja que, por ventura, tenhamos alguma dúvida. Ok, você não se importa, pois o que você procura é o preço! bom, então aqui o título especial cai por terra e fica apenas o termo cerveja, nada diferente de uma lager nacional, dessas de massa. Vale lembrar que as lojas se ESPECIALIZAM no produto, e sim, podem oferecer um serviço de cervejas ESPECIAIS, não é apenas um produto numa prateleira com uma etiqueta de preço. Pergunte no supermercado quantos IBU's aquela linda IPA reluzente na prateleira tem, e certamente alguém chamará o gerente, que obviamente também não saberá responder. Afinal, o google serve pra quê né? Alguém na loja pelo menos se deu ao trabalho de previamente consultar.

    Concluindo: Os dois primeiros tópicos podemos facilmente evitar, comprando cervejas com garrafas opacas ou com vidro marrom e fugindo as promoções mágicas. O terceiro tópico é mais uma questão comportamental e serve apenas para incentivar a experiência completa de se comprar e degustar algo especial. Lembrando que a grande preocupação do assunto dessa publicação é se os supermercados acabarão com as lojas especializadas: De forma alguma, como foi citado, assim como as lojas de vinho, as lojas de cervejas sobreviverão na mesma proporção da criatividade e personalidade do setor, algo que passa muito longe dos grandes comerciantes, orientados apenas pela tendência financeira.

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    1. Os supermercados tem vantagens e desvantagens, como deixei claro no post. Depois desse post, escrevi dois sobre lojas de cervejas:
      sobre a Almada's Beer Store http://mostocritico.blogspot.com.br/2012/06/o-mosto-legal-almadas-beer-store.html ; e sobre o Mr. Beer http://mostocritico.blogspot.com.br/2013/03/o-efeito-de-um-presente.html

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