quarta-feira, 28 de março de 2012

Carta de Intenções dos Blogueiros Brasileiros de Cerveja - Não assinei

No mercado cervejeiro, imagino que em outros mercados também, os blogueiros são vistos com desconfiança e certo preconceito. Afinal, qualquer um pode abrir um blog e escrever o que lhe vier a cabeça, dos melhores insights às piores merdas. Essa plataforma virtual de publicação proporciona tamanha liberdade que deve mesmo causar apreensão de qualquer um que possa ser assunto de um post. Mas tem um jeito de domar os blogueiros, pelo bolso.

Posts pagos por anunciantes, também conhecidos como publieditoriais, não são novidade na blogosfera. Entre os blogs de cerveja ainda é uma prática pouco comum, mas não é por falta de interesse dos blogueiros. Muitos colegas, blogueiros de cerveja, admiram o potencial econômico de suas publicações virtuais. Falta as empresas do setor apostarem na viabilidade marqueteira de tal instrumento de divulgação e controle.

Em um recente debate entre blogueiros de cerveja, decorrência da Carta de Intenções dos Blogueiros Brasileiros de Cerveja, afirmei que quando um blogueiro usa seu espaço virtual para publicar um texto, de sua própria autoria, para ajudar a divulgar um produto mediante pagamento, ele está vendendo a sua opinião. Indicar em nota ou com um banner que aquele texto se trata de um publieditorial não muda isso. Ele usa o mesmo espaço, com o mesmo destaque e mesma linguagem visual que em seus posts "não-pagos" para vender algo, associando assim sua credibilidade ao produto. Por outro lado essa mesma credibilidade, que foi monetarizada, pode perder valor perante o leitor ao ser vendida como ferramenta publicitária.

Não podemos confundir blogs com veículos de mídia tradicionais, como jornais e revistas. Blogs são uma mídia diretamente vinculada as relações sociais virtuais que surgiram na internet nos últimos 15 anos, e seu conteúdo está umbilicalmente ligado à participação do autor nas redes sociais virtuais. O que o autor publica, seja no blog, seja no facebook ou no twitter irá compor sua persona nessas redes.

lyke2drink.blogspot.com

No grupo de signatários da Carta de Intenções dos Blogueiros Brasileiros de Cerveja encontram-se blogs de muitos perfis diferentes. Desde pequenos blogs de degustação até websites de notícias do mundo cervejeiro. A maioria faz apenas por hobbie, mas muitos já tem sua vida profissional diretamente atrelada ao tema de seus blogs.

O tema da ética foi questão central na elaboração da carta. A ética do uso comercial dos blogs, via publieditoriais, foi resolvida com a redação deste artigo:

"Os integrantes do BBC passam a assumir perante o público os seguintes compromissos:

A retórica deste parágrafo pode parecer simples e direta à primeira vista, mas com um olhar mais cuidadoso logo percebe-se o vazio de tal compromisso. "Nos comprometemos a não fazer tal coisa, porém, quando fizermos, avisamos". Na mesma frase eles assumem um compromisso ético, mas dizem que em determinadas situações (leia-se quando pagarem) ele não será válido, quando isso acontecer deve-se avisar ao leitor. A forma como está escrito passa a impressão de que eles não pretendem vender a sua opinião, mas se porventura algum dos signatários o fizer ele não romperá com o compromisso, desde que assuma claramente. Não é bem assim: diversos membros deste grupo oferecem abertamente a venda de publieditoriais em seus blogs/sites, com tabela de preço e tudo! Se eles já sabem que esse compromisso só será válido as vezes, não seria mais coerente assumir apenas a segunda parte?

É verdade que também tenho outros motivos para não assinar esta carta. Não acho que os blogueiros precisem formar um grupo, coletivo ou associação para obter maior credibilidade ou visibilidade junto ao setor, a credibilidade de cada um é conquistada individualmente. Também não me interesso em publicar pautas conjuntas eventualmente, prefiro a variedade à unidade. Tampouco me sinto confortável em associar minha imagem a blogueiros que trabalham para importadoras, lojas ou bares, afinal o único diferencial deste blog é minha independência como blogueiro-consumidor para elogiar e criticar esses mesmos negócios.

quarta-feira, 21 de março de 2012

O Mosto Legal - Botequim do Cesinha

A onda dos botecos chiques em São Paulo é uma praga difícil de evitar. Por todos os bairros boêmios da cidade o cheiro da fumaça gordurosa saindo de uma picanha na chapa pode ser sentido. Chope de qualidade duvidosa e caipiroskas de frutas vermelhas são servidos aos montes em ambientes cenograficamente rústicos. Eu sei, sempre podemos escolher frequentar um botequim legítimo, tomar uma Brahma de garrafa, esperar o álcool fazer efeito até ter coragem de encarar a coxinha oleosa e depois o banheiro pantanoso. Eu, pessoalmente, não tenho mais estômago para isso.

Nunca tive interesse em conhecer o Botequim do Cesinha (Rua Delfina 66, V. Madalena - São Paulo), apesar de conhecer a boa fama e ser perto de casa. Grande erro da minha parte, que foi corrigido graças a um bom amigo, frequentador de lá.



O Botequim do Cesinha é um boteco à moda antiga, mas com alguns diferenciais importantes. O ambiente é simples, está instalado na garagem da casa do proprietário e o próprio Cesinha que te atende. A surpresa está na hora de escolher qual cerveja tomar: o cara tem uma seleção invejável entre nacionais e importadas, sem negligenciar as "ambevarianas". No dia que estive lá tomei a fantástica Brakspear Triple e, mesmo sentado em um banquinho na calçada, fui servido com a taça ideal. Lá no botequim não tem cozinha, em compensação ele serve uma bela porção de frios de boa qualidade e preço justíssimo, além de um sanduíche de rosbife caseiro (mesmo) imbatível. Ahh, não posso esquecer de outro detalhe que o destaca de qualquer outro boteco, chique ou não. No som apenas jazz e blues.

Mesmo estando tão desgostoso do panorama dos bares cervejeiros em São Paulo, o Botequim do Cesinha, além de ser minha mais nova referencia no bairro, demonstra que cervejas importadas e artesanais também combinam com simplicidade.

P.S: Na hora de ir embora o Cesinha me avisou que está saindo de férias e o bar ficará fechado. Se quiser conhecer lá, espere umas duas semanas.




terça-feira, 13 de março de 2012

Lugar de boa cerveja em SP não é no bar - O Melograno

O Melograno - Forneria & Empório de Cervejas abriu as portas na mesma época que comecei a me interessar por cervejas fora do comum, a pouco mais de 3 anos. Para a minha sorte o estabelecimento fica a apenas 3 quadras da minha casa, evidentemente que já fui muito lá. Neste tempo já pude conhecer muitas outras casa especializadas em cervejas especiais em São Paulo e posso dizer que o Melograno é o melhor exemplo de como esse setor se desenvolveu por aqui.



O nome já deixa claro que o Melograno não é bem um bar, o desavisado que entra pode muito bem confundir com uma pizzaria, afinal há até um forno a lenha nos fundos, além pizzas e paninis no cardápio. O ambiente também pouco lembra o de um bar, mesmo com toda memorabilia cervejeira exposta. Até existe um pequeno balcão na entrada, porém é subutilizado e pouco convidativo.

A casa já ganhou diversos prêmios como melhor carta de cerveja de São Paulo, mas fica claro que o juri não levou em consideração a oferta de cervejas na pressão, que não passa de quatro torneiras. Não há promoções de chope e pouco se vê clientes bebendo chope, para piorar muitas vezes ele é servido em mal estado de conservação. O serviço é o que mais faz lembrar um bar. Muito simpática, hoje em dia a garçonete já me chama pelo nome e sabe o que eu bebo.

O Melograno também se destaca pelos eventos que promove. Além de eventuais jantares harmonizados, a casa faz muito bem de movimentar as segundas e terças-feiras com ótima música ao vivo, nada de bandas classic-rock ou cantores banquinho-e-violão. Enquanto outras casas, mesmo nos dias mais movimentados, me obrigam a pagar couvert artístico quando quero apenas beber boa cerveja, o Melograno faz a proeza de oferecer bons shows gratuitos em formato "pocket" aos clientes dispostos a sair de casa numa segunda.



Apesar de muito conhecido, o Melograno nunca foi parada obrigatória da comunidade cervejeira paulistana. A grande maioria prefere ir ao Empório Alto dos Pinheiros. O comentário mais comum é que os preços do Melograno são mais altos, mas eu acho que não é só isso. Boa oferta de cervejas na pressão e promoções são o melhor gancho para fidelizar a clientela aficionada por cervejas especiais. Parece que a casa nunca mirou nesse filão, ao invés disso, até hoje a grande maioria do público do Melograno se divide entre curiosos inexperientes tentando decifrar a carta de cervejas e os que nem tentam, pedem logo uma Antarctica Original.

A verdade é que o Melograno não difere muito de muitos outros estabelecimentos que abriram na cidade nos últimos anos, carregando no nome ou sobrenome alguma referência às cervejas especiais (ou artesanais, ou qualquer outro apelido da boa cerveja). São sempre casas que apostam na neofilia da clientela e na imagem sofisticada dessas cervejas para atrair consumidores das classes A e B. Bares cervejeiros, como os que tem aberto no Rio de Janeiro, em Curitiba e Porto Alegre, com serviço e atmosfera de bar, repletos de torneiras, dispostos a viver de vender cerveja e chope artesanal, aqui em São Paulo ainda não há.

terça-feira, 6 de março de 2012

Verão não é a estação da boa cerveja

Recentemente desenterrei um artigo do mestre americano Charlie Papazian que relata a péssima logística cervejeira no Brasil, tida como vilã da boa cerveja. Ele cita o hábito do comerciante, de gelar apenas as cervejas que pretende vender nas próximas 48 horas, como problemático. Manter barril de chope em temperatura ambiente até a hora de servir também não ajuda nada, segundo ele.



Domingo de sol, depois de uma partida de tenis até encarei uma Antarctica Original com os parceiros. Já não vejo graça nenhuma nessa cerveja, mas desta vez foi muito pior. Tinha gosto de cabo de guarda-chuva enrolado em papelão molhado, além de um leve azedume. Nem os conservantes conseguiram salvar a cerveja.

Neste verão ainda não tomei chope Bamberg, porém no verão passado das três vezes que tomei chope Bamberg Pilsen, em duas o chope estava passado. Barril de chope bom merece ser tratado com mais carinho do que 30ºC à sombra. Buscando na memória creio que praticamente todas as cervejas passadas, baleadas ou estragadas que já tomei foram durante a estação mais quente do ano. Coincidência ou não, foi nesta época que tomei diversas Colorado Indicas sem aroma, Karavelle Red Ale azeda e até as Antarctica Originais com gosto de papelão. Por vez ou outra o fabricante até tenta contornar a reclamação com uma cerveja nova, mas a verdade é que este problema ultrapassa o alcance das cervejarias.

Caminhões sem refrigeração que viajam durante horas sob o sol forte, além de depósitos abafados, podem detonar qualquer cerveja. Nem mesmo as IPAs, que segundo o bom marketing cervejeiro, deveriam sobreviver até a uma viagem para à Índia, aguentam o nosso verão. Tenho a impressão que falta carinho com o produto, mesmo daqueles que se dizem especialistas. Tem um famoso empório aqui de São Paulo que sempre deixa um carregamento de cervejas pegando mormaço na entrada da loja, só para chamar a atenção da clientela.

O verão tem sido um inimigo implacável da boa cerveja. Na estação de maior demanda é quando tenho tomado as piores cervejas. Nem aditivos químicos, nem pasteurização, nem "IPAzação" tem salvado as cervejas da deterioração. Tá na hora de distribuidores e comerciantes darem um passo adiante e tratarem a boa cerveja com o cuidado que ela merece!

quinta-feira, 1 de março de 2012

O caô da vez

Até eu já cansei de escrever sobre este assunto, mas uma vez começado preciso ir até o final. Ontem enquanto tomava uns chopes na Cervejaria Nacional, descobri que eles agora estão vendendo cervejas importadas do portfólio da importadora Tarantino. Ao pegar uma garrafa da cerveja Anderson Valley ESB a venda na cervejaria reparei que, diferentemente do que havia relatado no post "Cervejas americanas e data de validade - Um ano depois", havia duas etiquetas de identificação: uma com os dados da importadora e do fabricante e outra com a data de fabricação. Até aí parece que está tudo certo. Minha surpresa foi (ok, nem tanto assim) descobrir que a data de fabricação impressa na etiqueta da importadora não coincide com a data de engarrafamento impressa pelo fabricante no vidro. Existe uma diferença de 2 meses entre as duas datas. Vejam as imagens abaixo:




O código impresso na garrafa (primeira imagem) é 11262. Segundo o site americano Fresh Beer Only! esse código indica que a cerveja foi engarrafada no 262º dia do ano 2011, de acordo com o calendário juliano esse foi o dia 19/setembro/2011. Para conhecer o calendário juliano clique aqui.

Observando as imagens fica claro que a data indicada pelo fabricante não coincide com a data indicada pelo importador. Acho que quem fabricou a cerveja sabe melhor do que ninguém em que data isso aconteceu. Fiquem de olho no caô !