sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O Mosto Legal - Jornalistas


O espaço dado às boas cervejas na imprensa brasileira cresceu muito nos últimos dois anos. Se antigamente as notícias sobre o mercado de cerveja costumavam aparecer nos cadernos de economia dos jornais, lentamente o tema tem se deslocado para as editorias de cultura. As editoras também acordaram para o tema: revistas semanais, masculinas, de viagens e de gastronomia passaram a dar atenção para as boas cervejas. Tá certo que a maioria das matérias servem apenas para divulgar novos lançamentos ou ensinar o be-a-bá da cultura cervejeira para quem só sabe a diferença entre cerveja clara e escura. Porém, tenho acompanhado o trabalho de dois jornalistas que têm ido além do lugar comum, garimpando furos sobre o mercado cervejeiro com precisão e conhecimento, aproveitando muito bem o espaço recém conquistado em alguns dos grandes jornais brasileiros. Os textos que eles têm publicado não subestimam o conhecimento do leitor-consumidor, fica claro que eles não guardam sua visão crítica sobre o atual estado do mercado cervejeiro para as conversas à boca pequena, mas fazem com o cuidado exigido pela responsabilidade de escrever para veículos jornalísticos de grande alcance.
Não bastando o envolvimento profissional com o assunto, ambos mantém blogs onde publicam, além de versões não-editadas de suas matérias para os jornais, avaliações de cervejas e outras curiosidades sobre o mercado e a cultura cervejeira.


Quem são eles?


O interesse pelo tema não é nada recente para Roberto Fonseca, já em 2005 ele mantinha um blog sobre latinhas de cerveja, o Latinhas do Bob. No ano seguinte publicou no caderno Paladar do Estadão sua primeira matéria sobre o mercado cervejeiro, fruto de uma viagem por Santa Catarina em busca das micro-cervejarias da região. Com o passar do tempo o interesse dos leitores aumentou e atualmente escreve para o caderno de gastronomia do jornal toda semana, com notícias e avaliações de cervejas. O seu blog, o Blog do B.O.B no site do Estadão, é um dos mais conhecidos entre os aficionados pelas cervejas, pois sempre traz informações em primeira mão, principalmente sobre a cena paulista.




Marcio Beck está nessa há menos tempo, sua primeira matéria sobre o mercado cervejeiro foi publicada em maio de 2011, no Jornal do Commercio. O tema foi a visita do vice-presidente da Brewers' Association, Bob Pease, ao Brasil. Desde então ele já publicou diversas matérias sobre o assunto, sempre com enfoque no desenvolvimento do mercado das boas cervejas. O seu blog, A Volta ao Mundo em 700 Cervejas, segue na mesma linha, e teve como ponto alto a ótima entrevista com o Garrett Oliver, da cervejaria Brooklyn, que antecedeu a recente visita dele ao Brasil.





Antes de escrever esse post, pedi a eles que me ajudassem respondendo algumas perguntas sobre suas carreiras. Inicialmente eu não tinha a intenção de publicá-las, mas eles responderam com tanta boa vontade e cuidado que considerei um desperdício guardar apenas para mim. Nos links abaixo estão publicadas a pequena "entrevista" com ambos jornalistas:

Roberto Fonseca

Marcio Beck 

domingo, 2 de dezembro de 2012

Para que tantos estilos?

A mais nova belgian dark IPA.
Fonte: http://www.beermaniacs.com.br
Uma boa forma de saber o quanto você é aficionado por cerveja é elencar todos os estilos de cerveja que conhece. Saber o nome de diversos estilos também pode ser ótimo para contar vantagem na mesa do bar e conquistar o distintivo de beerchato. Mas, para além disso, os estilos de cerveja tem uma utilidade bem mais prática. Quanto mais conheço os estilos de cervejas mais fácil fica fazer boas escolhas cervejeiras.

Muitos cervejeiros caseiros, e outros beernerds em geral, adoram promover longos debates sobre as características que definem cada estilo e julgar se cada cerveja se enquadra ou não no estilo proposto.
Eu não me entusiasmo tanto com esses debates. Depois que bebo a cerveja, o estilo a qual ela pertence perde importância.

Na minha cabeça prefiro enquadrar as cervejas em categorias mais simples: amargas, intensas, suaves, refrescantes, etc. Assim agrupo mentalmente as cervejas que já provei. Porém não posso ignorar a qual estilo cada cerveja que provei está enquadrada. Apenas associando as minhas categorias mentais de cervejas aos estilos cervejeiros saberei o que posso encontrar em uma cerveja que ainda não provei.

Para mim, como consumidor, esse é o ponto que realmente importa. Conhecer os estilos me ajuda a escolher o que beber, principalmente a comprar uma cerveja que nunca tomei antes. Quando a cervejaria indica de forma clara em qual estilo sua cerveja se enquadra, ela facilita a minha escolha. A surpresa se resumirá ao quanto boa ou ruim essa cerveja é. Tudo bem que certas características sutis podem estar presentes em alguns exemplares do estilo, mas não em outros, esse tipo de surpresa também pode ser boa. Mas eu não gostaria de encontrar um defumado intenso em uma schwarzbier, nem um azedume na minha IPA. Dentre as variações de aromas e sabores que cada estilo abrange alguma regularidade tem que haver, para que o próprio estilo faça sentido.

Atualmente, com o crescimento do número de consumidores interessados em cervejas para além do universo das "pilsen", o estilo indicado no rótulo pode ajudar muito a vender. Infelizmente muitas cervejarias não se apegam aos padrões existentes para cada estilo. Querem meramente associar seu produto a algum estilo que consideram facilmente vendável. Aí surgem stouts de baixa fermentação, red ales com mais de 8%abv e outras coisa estranhas. E o que dizer das IPAs? Esse é um estilo com tantas variações que já é difícil dizer exatamente o que qualquer IPA terá em comum. Parece que a fórmula do mercado é a seguinte: pegue qualquer ale, jogue um monte de lúpulos americanos e a batize de "qualquer coisa IPA". Deve vender bem, até eu compraria.

Todo mundo já viu esse cartaz, mas continua muito instrutivo.
fonte: Aleheads


terça-feira, 16 de outubro de 2012

A filosofia da sommelier e o dia-a-dia


Depois de ler o novo artigo da Cilene Soarin para o portal "UOL - Comidas e Bebidas" fiquei me perguntando até quando o mercado das boas cervejas, sejam artesanais ou importadas, vai ser pautado pela experiência de degustações didáticas. Não é a primeira vez que leio um artigo associando a ascenção econômica e cultural de jovens bebedores de louras geladas ao interesse por aprender sobre cervejas mais sofisticadas, nem tão loiras e nem tão geladas. Sempre envolve um bar tão sofisticado quanto e um certo procedimento quase científico de ordenar e harmonizar as cervejas, da forma didática para não assustar os novatos. Não sei vocês, mas eu nunca participei de alguma degustação dessas, seja formal, com algum sommelier, ou informal, com amigos. A mudança no meu hábito de consumo foi paulatina, movida pela simples curiosidade de saber a diferença entre as cervejas de sempre e aquelas outras pouco conhecidas que aparecem na prateleira do supermercado.

O hábito de beber cerveja eu já cultivo há mais de 10 anos, é algo que faz parte do meu dia-a-dia, como comer um sanduíche ou assitir a um jogo de futebol. De alguns anos para cá mudaram os rótulos e aumentou a variedade na minha geladeira, mas o hábito nem tanto. Em um dia quente, tomar uma cerveja logo que chego em casa do trabalho. Quando vou cozinhar, abrir cerveja que me acompanhe no fogão e na mesa. Na hora do futebol estar sempre acompanhado de uma cerveja. Em uma coisa eu concordo com a Cilene, a quantidade mudou bastante também. Afinal, para que beber tão rápido se a cerveja é tão mais saborosa que aquelas de antigamente? Tá certo que pelo preço das boas cervejas, é melhor beber devagar mesmo.

O que realmente incomoda neste discurso é que ele reflete a visão que grande parte dos consumidores de São Paulo ainda tem das boas cervejas: um produto diferenciado, para momentos especiais. Nessa lógica a cerveja do dia-a-dia continua sendo uma daquelas aguadas das propagandas de TV. Essa visão também se reflete nos bares da cidade. Já superamos aquela fase onde, para fugir das cervejas populares, só havia os bares e empórios especializados (temáticos?). Até algum tempo atrás, as estrelas dos "temáticos" eram as grandes cervejas importadas de fama mundial. O programa de muitos aficionados era ir ao Melograno ou Empório Alto dos Pinheiros tomar uma Tripel Karmeliet ou Chimay Bleue (sempre na garrafa arrolhada de 750ml), se esbaldar com aquele luxo caro. Lógico que já havia diversas cervejas artesanais brasileiras para serem degustadas, mas elas não tinham o apelo de sofisticação das importadas mais famosas. Evidentemente que poucos podem se dar esse luxo com frequência, então o resto da semana devia acabar sendo regado a Coca ou no máximo umas Heinekens. 

Ainda bem que de uns tempos para cá a situação está melhorando em São Paulo. As boas cervejas estão lentamente se espalhando para além dos bares de nicho. É lógico que não dá para esperar uma seleção interessante de boas cervejas em qualquer bar, mas havendo alguma opção para fugir da lager de milho, é certo que muitos clientes ficarão felizes.

Um passo importante para as boas cervejas se tornarem, de uma vez por todas, um produto de consumo para o dia-a-dia dos apreciadores é uma oferta razoável de cervejas na pressão, ou "chope" para os tradicionalistas. A falta de opções para tomar cerveja na pressão em São Paulo chegou a tal ponto que chope virou uma categoria a parte. Quando entro em algum bar comum e pergunto quais cervejas tem, o chope nem é mencionado, pois é um produto completamente diferente na cabeça do garçom, e provavelmente da maioria dos que trabalham no ramo. Será que eles não sabem que o chope e a cerveja sairam todos do mesmo tanque.

Tenho a impressão que São Paulo ainda perde no quesito bares com variedade de boas cervejas na pressão. Não estão mais bem servidos o Rio de Janeiro (Boteco Colarinho, Delirium Café), Porto Alegre (Biermarkt, Vom Fass), Curitiba (Hop'n'Roll) e Belo Horizonte (CCCP, Empório Serafina)? Os poucos por aqui que já oferecem várias torneiras para os clientes escolherem, ainda incorrem no mesmo erro do passado. Muita cerveja importada na pressão e poucas nacionais. E onde fica o frescor da cerveja de barril, não pasteurizada, depois de viajar 10mil quilômetros? Conheço alguns poucos bares em SP com mais de 3 torneiras de boas cervejas e arrisco dizer que, na soma, dois terços delas estão servindo cervejas importadas. Mas é um começo. Eu sei bem que trabalhar com cerveja na pressão é negócio arriscado. O produto é muito perecível, a clientela quer variedade mas sempre vai ter algum barril encalhado ocupando torneira. Mas com promoções espertas e bom jogo de cintura dá para formar um público cativo que valoriza as cervejas frescas que saem das torneiras. Mesmo que ainda privilegiando as importadas, o Empório Alto dos Pinheiros, com seus 27 bicos, já tem um público fiel às suas torneiras. Para uma cidade como São Paulo ainda é muito pouco, mas quem sabe a gente chega lá. 

Menos afetação, gourmetização, falsa sofisticação e mais bares com boas cervejas (de preferência tiradas na pressão), é querer demais?



Biermarkt Vom Fass - Porto Alegre/RS

terça-feira, 18 de setembro de 2012

A rede social zitófila




Recentemente um cervejeiro brasileiro dos mais medalhados perguntou no Twitter se valia a pena participar da rede social Untappd. Meu primeiro instinto foi avisá-lo que a participação é gratuita, mas logo percebi que não era esse "vale a pena" a que ele se referia. Provavelmente estava preocupado em não perder tempo com alguma futilidade virtual.

Para quem ainda não conhece, o Untappd é uma pequena rede social sobre cervejas. Ao modo Foursquare, os usuários fazem check-in da cerveja que estão bebendo. O legal do Untappd não é apenas fazer os amigos passarem vontade, mas a possibilidade de comentar sobre as cervejas que está tomando de forma simples e direta. Também ajuda muito na troca de informações sobre onde encontrar determinadas cervejas, os melhores preços, se determinado lote daquela importada já está meio caído, etc.

As cervejarias também podem, de forma gratuita, ter um perfil oficial no Untappd. Com isso elas tem acesso a estatísticas que ajudam a monitorar o padrão de consumo de suas cervejas na rede. É uma ferramenta de marketing de mão beijada, ainda mais porque, como qualquer rede social na internet, os consumidores brasileiros aderiram na maior empolgação e a base de usuários não para de crescer. A participação das cervejarias também ajuda os usuários, pois as cervejarias podem cuidar para que as informações relativas às suas cervejas estejam sempre atualizadas. Além disso, diferente de outras redes sociais, o Untappd abre um canal de diálogo entre produtor e consumidor diretamente focado nas cervejas sem memes ou outras distrações.

Peguei alguns números para ter uma ideia de como a maioria das micro-cervejarias brasileiras estão comendo mosca: as cervejas da Colorado já receberam 2735 check-ins no Untappd, sem que a cervejaria tenha um perfil oficial na rede; a cerveja Wäls Petroleum já recebeu 485 check-ins, sem que a cervejaria tenha um perfil oficial na rede; as cervejas da Bamberg já receberam só este mês 204 check-ins, sem que a cervejaria tenha um perfil oficial na rede.

Por outro lado, algumas cervejarias brasileiras mais atentas já assumiram seus perfis oficiais na rede social zitófila. Quase mil usuários do Untappd já deram check-in em cervejas da Eisenbahn, que tem perfil oficial. Outras cervejarias como Bodebrown, Küd, Nacional e 2Cabeças não perderam tanto tempo e também participam do Untappd. O que falta para as outras?


P.S. - Para quem quiser me adicionar, o perfil é mostocritico.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Mas quem lê rótulos?

Eu sempre gostei de ler rótulo de todo produto que consumo, e já aprendi muita coisa. Por que todos os doces de leite do mercado tem que ter aroma de baunilha? Não sei e não me agrada. Com cervejas também aprendi logo que "corante caramelo" não é só para dar cor à cerveja. Alguém entende porque a Bohemia Escura e a Baden Baden 1999 precisam levar caramelo na receita?

Já escrevi bastante sobre as falcatruas na validade de cervejas importadas, mas esse não é o único problema que se encontra nos rótulos. Diversas importadoras desconsideram a importância de informar ao consumidor sobre os ingredientes usados na fabricação da cerveja. Provavelmente, para esses importadores, a exigência do rótulo traduzido é uma mera formalidade, sem qualquer benefício ao consumidor. O consumidor que quiser conhecer os ingredientes de algumas cervejas importadas podera ser induzido ao engano pelo rótulo traduzido. Nem adianta saber ler no idioma do rótulo original, pois a tradução é muitas vezes colada sobre a lista original de ingredientes.




Quem ler apenas o rótulo traduzido da Young's Double Chocolate Stout pode achar que a referência ao chocolate no nome da cerveja é apenas uma sugestão de sabor. Na lista de ingredientes em português não consta nem chocolate nem a essência de chocolate, usados na fabricação da cerveja.
Quem tiver coragem de experimentar a Belzebuth 11,8% pode querer saber como é fabricada aquela bomba. Ela contém aqueles mesmos adjuntos e aditivos presentes nas mais ordinárias cervejas brasileiras, como corante caramelo e conservante. Mas esses ingredientes são ignorados na lista de ingredientes citados no rótulo da importadora.
Na Anderson Valley Winter Solstice, o rótulo frontal logo entrega "ale with natural flavor added". Porém, segundo o selo da importadora, essa cerveja poderia muito bem seguir a lei de pureza alemã. Em português se lê apenas os ingredientes "água, malte, lúpulo e levedura". Cadê o tempero natural?

Não adianta, informação confiável não é o forte das importadoras de cerveja...





sexta-feira, 27 de julho de 2012

O Mosto Legal - Fórum Brejas




Muito antes de criar esse blog, eu já escrevia sobre o mercado cervejeiro, como usuário do fórum do site Brejas. Esse site é o maior portal sobre cervejas do Brasil e segue o mesmo modelo do americano Beer Advocate. O Brejas é composto por um blog escrito pelos criadores do site, uma seção para os usuários avaliarem cervejas, o fórum e algumas outras seções menos interessantes.

Sempre foi o fórum que me interessou naquele site, pois é lá que os consumidores trocam idéias e informações de forma direta e aberta. Considero as opiniões expressas no fórum Brejas bem representativas do sentimento do consumidor comum: aquele que não participa de eventos cervejeiros; não trabalha no setor nem é amigo de donos de bares, cervejarias e importadores; não é blogueiro. Tá certo que, assim como eu, alguns usuários veteranos, que gostam de escrever, acabaram por criar seus blogs.

É muito curioso como as opiniões dos usuários do fórum Brejas seguem uma tendência mais crítica, e diria também mais realista, do que as publicadas, por consumidores, nas páginas de cervejarias no Facebook. Acredito que essa diferença seja devido ao senso de comunidade surgido no fórum, onde consumidores se sentem mais protegidos da patrulha panglossiana. Por outro lado, a participação de representantes de cervejarias e importadores no fórum faz falta. Muitas críticas e dúvidas dos usuários ficam sem resposta oficial, deixando espaço para mitos e informações equivocadas.
É uma lástima que o mercado ignore este fórum. Já ouvi de pessoas, melhor relacionadas no meio cervejeiro do que eu, comentários dos mais preconceituosos e arrogantes sobre o fórum Brejas e seus usuários. Até no twitter esse tipo de menosprezo contra foristas aparece vez ou outra, vindo de pessoas que trabalham no mercado cervejeiro. Parece até que esquecem quem é que banca esse mercado, comprando cervejas. São os consumidores, como os foristas do Brejas!

Eu nunca perdi uma polêmica surgida no fórum Brejas, já fui até pivô de algumas, mas o tópico que me faz voltar lá diariamente é mais prático. Os foristas, assim como eu, sempre correm ao fórum para contar sobre qualquer barganha ou promoção de boas cervejas escondida por aí. Se você quer fazer bom negócio, sempre vale a pena ler os tópicos sobre ofertas antes de gastar seu dinheiro.


Não posso deixar de agradecer aos criadores do fórum, Ricardo Sangion e Maurício Beltramelli. Valeu!

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Mais algumas considerações sobre o Have a Nice Beer








Recebi no último sábado a remessa mensal do clube Have a Nice Beer. Vieram quatro garrafas de lagers alemãs sem graça e uma garrafa da pale ale "Bill's Beer", de Volta Redonda/RJ. Essa última havia sido a oferta especial que o clube lançou no Dia da Cerveja Brasileira (5/jun). A cerveja é muito boa, mas o que mais me chamou a atenção foi a data de fabricação: 13/jun/2012. A cerveja foi vendida aos associados antes mesmo de ser engarrafada. Apesar de ter demorado 45 dias para chegar na minha casa (são as regras do clube) a cerveja estava bem fresca, com a lupulagem dando as caras assim que a garrafa é aberta.
Taí uma boa vantagem do clube de cervejas. Podem encomendar um lote da cerveja que ainda estava no tanque. Bom para a micro-cervejaria, que garantiu a venda de parte do lote ainda durante a fabricação, bom para o consumidor que apreciou a cerveja em sua melhor forma.
A venda da Bill's Beer pelo HNB sugere até uma nova linha de atuação. Com o crescimento do clube, poderiam fazer isso mais vezes com boas cervejas de micro-cervejarias brasileiras que ainda não tem boa distribuição. Melhor ainda, poderiam fazer como algumas cervejarias americanas já fazem e encomendar cervejas exclusivas (dessa vez para valer), que estariam disponíveis apenas para os assinantes.

Eu já escrevi aqui que a revista do Have a Nice Beer é muito bonita? A capa desse mês está muito legal mesmo. Mas, mais importante do que boas ilustrações e artigos interessantes, a revista precisa ter informações mais precisas sobre os produtos oferecidos pelo clube. Na edição deste mês a revista anuncia a seleção de agosto: duas Zatecs, da República Checa. O anúncio traz uma pequena resenha sobre as cervejas, o preço e uma grande foto das garrafas. Só esqueceram de dizer qual é o volume da garrafa oferecida. Quem entrar no site do clube vai descobrir que são de 330ml, mas o sócio que não se der ao trabalho pode muito bem achar que está comprando cervejas como as da foto na revista, de 500ml. O clube deveria informar na revista o tamanho da garrafas ofertadas e evitar de publicar uma foto que não corresponde ao produto vendido.
Erro parecido acontece na contracapa da revista. O clube está oferecendo aos sócios cervejas das seleções passadas. Na página, há uma pequena ficha de cada uma das cervejas à venda, com estilo, teor alcoólico, até sugerem o tipo de copo a ser usado. Mas deixam de publicar as informações mais relevantes ao consumidor, o preço e o volume das garrafas. Fica bem mais fácil para o consumidor se interessar pela oferta se puder avaliar a relação custo/benefício dos produtos. Ilustrações bonitas devem ajudar a vender cerveja, mas não substituem informações básicas para o consumidor.





sexta-feira, 29 de junho de 2012

O engodo da exclusividade exclusiva

anchorbrewing.com


Recentemente fiz uma assinatura do clube de compras de cervejas Have a Nice Beer. O apelo das cervejas Anchor Bock e Anchor Liberty Ale, oferecidas com exclusividade aos sócios, foi tentador. Infelizmente esse apelo da exclusividade se revelou um engodo. Em um tópico do fórum Brejas sobre "Cerveja por assinatura" a exclusividade das cervejas vendidas pelo clube Have a Nice Beer foi logo questionada. Rapidamente surgiram foristas que encontraram tais cervejas à venda em lojas conhecidas, em São Paulo e Porto Alegre. No mesmo mês em que as duas Anchors estão sendo entregues aos membros do clube, os outros consumidores as encontram por aí. No site do clube há ainda a oferta da cerveja da Banda Velhas Virgens, lá é novamente usado o artifício da exclusividade para vender a cerveja. Mas não se deixe enganar, não é nada dificil encontrar a Indie Rockin' Beer Velhas Virgens à venda.

Que fique claro: Continuo achando a assinatura do clube Have a Nice Beer interessante. Os preços as vezes são melhores e outras vezes piores que nas lojas, mas as cervejas são sempre atraentes e muitas vezes são novidade no mercado. Além disso o kit acompanha uma revista muito bem feita e o frete grátis é uma comodidade e tanto. São tantas as vantagens em aderir ao clube que não haveria a necessidade de apelar para o falso chamariz. Se eles não tem como garantir a exclusividade que não se queimem por isso. Não pretendo cancelar minha assinatura, mas o clube Have a Nice Beer desceu um degrau na escada da credibilidade cervejeira.

terça-feira, 26 de junho de 2012

A minha breve história da Cervejaria Corsário



Eu tive uma breve experiência trabalhando no mercado cervejeiro. Fui gerente da Cervejaria Corsário, um proto-brewpub que funcionou por apenas 45 dias em São Paulo, entre julho e agosto de 2011. A casa era uma parceria entre a cozinheira Eliane André (Casa da Li) e os cervejeiros Marcelo Cury e Marcelo Games. Na verdade a Corsário ocupava, durante a noite, o mesmo espaço onde funciona o restaurante-rotisseria da Eliane.

O projeto era muito legal e eu estava entusiasmado por trabalhar em um novo ramo, depois de vários anos sentado dentro de um escritório. Comecei a trabalhar lá uma semana antes da inauguração e logo nos primeiros dias ficou claro que a relação entre os sócios não era das melhores. De um lado a cozinheira cobrava uma postura profissional de todos e tentava impor seu paradigma de bar tradicional, no estilo Astor.  Do outro lado os cervejeiros tinham uma postura pouco compromissada com o dia a dia da casa, pareciam mais preocupados em receber bem seus convidados. Pelo menos os Marcelos tinham uma ideia menos careta de bar, com a proposta de um serviço mais descontraído.

O maior conflito entre os sócios era devido a oferta (ou falta de) cervejas da casa. Veja bem: na Cervejaria Corsário a produção era artesanal MESMO, na panela. Os Marcelos cervejeiros até tinham o sonho de adquirir equipamentos industriais, mas a intenção inicial era vender a mesma cerveja que eles costumavam fazer em casa. O ritmo de produção também era o mesmo de quando a cerveja era apenas para consumo próprio, durante os 45 dias de funcionamento da Corsário eles só brassaram uma vez. Não preciso nem dizer que raramente tínhamos alguma cerveja da casa para servir e o pouco que tinha era muitas vezes reservado para o dia em que os amigos visitavam. Para cobrir a ausência de cervejas Corsário havia uma ótima carta de cervejas, inclusive alguns chopes exclusivos na cidade.

Apesar de tudo, o movimento não era tão ruim para um bar recém inaugurado. Os donos eram muito bem relacionados e a divulgação foi muito boa, figurou nos principais guias semanais da cidade. Mas do jeito como estávamos trabalhando seria muito difícil que desse lucro. Não havia um único garçom contratado e o custo de contratar garçons eventuais era bem alto. Os únicos funcionários contratados para trabalhar na Cervejaria Corsário eram eu (gerente) e o Cícero, um  tirador de chope veterano de larga experiência com chopp Brahma. Na cozinha, a equipe do restaurante "Casa da Li" garantia os comes.

Fui contratado pelos Marcelos Cury e Games para trabalhar na Cervejaria Corsário. A princípio, eles deixaram bem claro que, apesar de dividirem o mesmo espaço da "Casa da Li" e terem a Eliane como sócia, eu seria funcionário apenas da cervejaria. A Eliane discordava disso e eu, tentando agradar a todos, me dispus a trabalhar em alguns almoços de domingo do restaurante. A Eliane, ao contrário dos cervejeiros estava sempre presente, porém era uma pessoa muito difícil de lidar, encrenqueira e egocêntrica. Conhecendo a figura dá para entender porque havia tanta dificuldade em contratar garçons. Nas semanas que estive trabalhando com ela vi ao menos um funcionário por semana pedir as contas.

Em pouco tempo o relacionamento entre os sócios degringolou para acusações de desonestidade e afins. A dedicação errática que os cervejeiros demonstraram durante o funcionamento do bar se transformou em desapego, pois pouco se dedicaram a contornar a situação para manter a cervejaria aberta. A Cervejaria Corsário fechou com a promessa (não cumprida) de reabrir rapidamente em outro endereço. Eu que, no entusiasmo de trabalhar em um brewpub, aceitei ficar na informalidade nos primeiros meses, me dei mal. Se no começo os sócios disputavam para saber a quem o gerente estava subordinado, quando fechou nenhuma das partes assumiu a dívida comigo referente aos últimos 15 dias trabalhados, muito menos pelo pagamento dos 10% da taxa de serviço, que foi cobrado e nunca repassado. O pouco comprometimento que eles demonstraram com o próprio negócio se estendeu a mim. Fui demitido por email e fiquei sem receber.

Dessa experiência na Cervejaria Corsário tem um fato em especial que preciso contar aqui, pois está diretamente relacionado a criação desse blog.  Quando comecei a trabalhar lá, os proprietários da Corsário não sabiam que eu havia sido pivô da polêmica com a validade das cervejas americanas. Durante a festa de inauguração da Cervejaria Corsário, alguém próximo àquela importadora me reconheceu e prontamente avisou o dono da importadora, que na mesma noite ligou para o Marcelo Cury pedindo a minha cabeça. Naquela madrugada, depois da festa, fui longamente interrogado pelos donos da Corsário, pois haviam recebido uma denúncia (bizarra) de que eu já havia trabalhado antes no ramo e teria tido uma motivação "profissional" naquela famigerada polêmica. Felizmente (ou não) tudo ficou esclarecido naquela noite e eu continuei trabalhando na Cervejaria Corsário por mais um mês, até o encerramento das atividades.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

O Mosto Legal - Almada's Beer Store

Outro dia escrevi neste blog que os supermercados estão tornando difícil a vida das lojas de cerveja. Não parece razoável, para um pequeno empreendedor, tentar competir com as grandes corporações do varejo. Vejam o que aconteceu com os armazéns de bairro, espécie quase extinta. Porém tem gente com coragem suficiente para, contradizendo essa minha análise, investir em um negócio desses em São Paulo. Atualmente, quando quero me abastecer de boas cervejas, a única loja que me faz desviar do caminho fácil para o supermercado mais próximo é a Almada's Beer Store.

Foto: Facebook


A loja está localizada em uma rua calma e residencial, bem escondida mesmo, no Alto da Lapa. É um típico comércio de bairro, a clientela chega a pé na maioria das vezes, trazendo a tiracolo a sacola retornável distribuída no estabelecimento. A loja não é grande, muito bem organizada e tem uma ampla porta que a torna convidativa mesmo para quem quer só dar uma olhada.
Todos dizem "o diferencial do empório cervejeiro tem que ser o serviço", assim ser atendido pelo próprio dono já é um adianto. O cara conhece bem o produto e logo saca quais são as suas preferências. o Sérgio, proprietário da loja, vai estar sempre lá, até porque ele não tem nenhum funcionário.
Manter todo o estoque de cervejas sob refrigeração ainda é uma prática desconhecida em São Paulo, mas pelo menos na Almada's há a opção de adquirir a maioria delas gelada. Inclusive lá tem até uma daquelas novas geladeiras da Heineken, afinal um produto já familiar ajuda a quebrar o estranhamento que uma loja dessas pode causar nos vizinhos mais desconfiados.


Mr. Beer tem um monte abrindo e fechando por aí, o investimento é pequeno, assim como é a chance do negócio prosperar. Nesse mercado muito sensível à variação de preços, a franquia de lojas cervejeiras tem a desvantagem de colocar mais um intermediário entre produtor e consumidor, aumentando o preço final. A Almada's Beer Store não tem a visibilidade de um quiosque de shopping, porém pôde enxugar os custos fixos ao máximo, mantendo a qualidade do atendimento, grande variedade de cervejas e mais importante, preços atraentes.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

A Cervejaria do Bairro

Me considero um afortunado, pois em meu bairro há uma cervejaria, melhor ainda um brewpub: fabrica e serve no mesmo estabelecimento. Chama-se Cervejaria Nacional e completou 1 ano de funcionamento esta semana.


Foto: Mario Rodrigues

Já fui lá tantas vezes que perdi a conta. Eu gosto muito da Cervejaria Nacional por dois motivos: É perto e tem boa cerveja. Isso já é o suficiente para me satisfazer, pois defeitos lá tem vários. A entrada não é muito receptiva. Tem que fazer uma ficha com nome completo e telefone para retirar a comanda, antes de subir a escada em direção ao bar. Quanta burocracia por uma cerveja! O serviço, muito tímido e inseguro, demorou a engrenar, atualmente está bem melhor, mas ainda me faz sentir como se estivesse no Applebee's. Falta mais descontração e perguntar ao cliente, antes do cardápio ou qualquer outra coisa, se quer pedir uma cerveja. O ambiente é legal, apesar de muito formal e do péssimo hábito de abaixarem as luzes no meio da noite e acenderem velas nas mesas. Esse clima romântico é coisa de piano-bar, não de brewpub.

E tem as cervejas. Não são as melhores, nem são fantásticas, mas são muito boas e isso já uma grande coisa. O preço não empolga, com pint de IPA por R$16. Por esse valor tem bar vendendo garrafa de Colorado Indica, mas na maioria das vezes ela não está muito fresca, foi pasteurizada e tal. Entre tomar a melhor IPA velha e uma boa IPA fresca, fico com a segunda. Na cervejaria do bairro a cerveja percorre no máximo uns 50 metros desde o fermentador até o seu copo e para aliviar o bolso do vizinho assíduo tem promoção com chope em dobro de segunda à sexta.

Um ano atrás o colega Roberto Fonseca escreveu no Estadão e em seu blog sobre os dois novos brewpubs que iriam abrir em São Paulo, Cervejaria Nacional e Cervejaria Corsário (essa história eu conto outro dia), e  levantou o histórico dos brewpubs na cidade. Passado um ano, parece que ao menos a Cervejaria Nacional veio para ficar. Espero que a recente diminuição nas horas de funcionamento não seja um mau sinal, apenas um ajuste, pois ainda pretendo tomar muitos pints por lá.

terça-feira, 22 de maio de 2012

O supermercado vai matar a loja de cerveja?

Os supermercados de São Paulo entraram de vez no ramo das cervejas boas. Na seção, que antes era disputada entre "lager mega A" vs. "lager mega B", agora o destaque está nos rótulos pouco conhecidos das ales artesanais e diversas importadas de qualidade. Os supermercados não entraram nessa onda só para se aproveitar da imagem sofisticada desse produto, estão realmente querendo disputar mercado. Os preços praticados pelos supermercados nas cervejas importadas e nas artesanais são, na grande maioria das vezes, melhores que qualquer empório ou loja on-line.

Um dia a gente chega lá. (foto: Brewtality)


Eu compro cerveja quase sempre em supermercados e os daqui da região não tem deixado a desejar na seleção de artesanais e importadas. Alguns meses atrás o Blog do BOB fez um censo completo do setor, que continua melhorando a cada semana.

Nós, consumidores, nos beneficiamos com isso, cerveja boa, mais fácil de encontrar e com bons preços. Quem não deve estar gostando são os donos de empórios e lojas de cerveja. Antes eles tinham o chamariz da exclusividade, agora estão em uma situação parecida com a do dono do mercadinho da esquina. Como resistir ao poder das corporações?

Eu sei que comprar cervejas em lojas especializadas tem suas vantagens. A seleção é ainda melhor que os melhores supermercados, o serviço é bem mais atencioso e, por vezes, especializado. Porém, cerveja boa é um troço caro e sei que muitos, como eu, não podem se dar ao luxo de abrir mão do melhor preço.

O situação já não é nada animadora para as lojas de cerveja, e tem um elo da cadeia cervejeira que tem jogado contra: distribuidoras e importadoras.Outro dia o dono de uma loja de cerveja me contou que havia comprado umas caixas de Guinness Draught e pagado R$5 a unidade, que seria um bom preço. Para a sua surpresa alguns dias depois ele descobre que o supermercado mais próximo de sua loja estava vendendo o mesmo produto pelo preço cobrado pelo importador. Com as cervejas nacionais não era muito diferente. Ele pagava no distribuidor pelas garrafas 600ml de cerveja Colorado quase o mesmo preço cobrado em uma outra rede de supermercados.

(Foto:Tim Boyle)


O poder econômico das grandes corporações varejistas é colossal e muitos produtores e distribuidores devem estar dispostos às maiores loucuras (leia-se descontos e bonificações) para entrar com seus produtos em uma dessas redes. Afinal, uma vez fazendo parte do portfólio de um supermercado, grandes encomendas virão. Mas esses intermediários não podem ignorar a importância dos pequenos e jogar contra. Primeiro porque ingratidão é feio e por muito tempo o mercado de cervejas boas se limitava às pequenas lojas, era desses comerciantes que distribuidores e importadores dependiam. Segundo e mais importante é reconhecer a importância que essas lojas ainda tem no mercado, principalmente pela difusão da cultura cervejeira. Na loja cervejeira consumidor compra com mais atenção e está mais aberto a provar novos produtos. A fidelização do consumidor passa, na maioria das vezes, pelos empórios.

A sobrevivência dos pequenos comerciantes de cerveja depende muito da capacidade que terão de se manterem competitivos num mercado muito sensível à variação de preços. Dá para ser competitivo quando distribuidor e supermercado praticam o mesmo preço?

quarta-feira, 28 de março de 2012

Carta de Intenções dos Blogueiros Brasileiros de Cerveja - Não assinei

No mercado cervejeiro, imagino que em outros mercados também, os blogueiros são vistos com desconfiança e certo preconceito. Afinal, qualquer um pode abrir um blog e escrever o que lhe vier a cabeça, dos melhores insights às piores merdas. Essa plataforma virtual de publicação proporciona tamanha liberdade que deve mesmo causar apreensão de qualquer um que possa ser assunto de um post. Mas tem um jeito de domar os blogueiros, pelo bolso.

Posts pagos por anunciantes, também conhecidos como publieditoriais, não são novidade na blogosfera. Entre os blogs de cerveja ainda é uma prática pouco comum, mas não é por falta de interesse dos blogueiros. Muitos colegas, blogueiros de cerveja, admiram o potencial econômico de suas publicações virtuais. Falta as empresas do setor apostarem na viabilidade marqueteira de tal instrumento de divulgação e controle.

Em um recente debate entre blogueiros de cerveja, decorrência da Carta de Intenções dos Blogueiros Brasileiros de Cerveja, afirmei que quando um blogueiro usa seu espaço virtual para publicar um texto, de sua própria autoria, para ajudar a divulgar um produto mediante pagamento, ele está vendendo a sua opinião. Indicar em nota ou com um banner que aquele texto se trata de um publieditorial não muda isso. Ele usa o mesmo espaço, com o mesmo destaque e mesma linguagem visual que em seus posts "não-pagos" para vender algo, associando assim sua credibilidade ao produto. Por outro lado essa mesma credibilidade, que foi monetarizada, pode perder valor perante o leitor ao ser vendida como ferramenta publicitária.

Não podemos confundir blogs com veículos de mídia tradicionais, como jornais e revistas. Blogs são uma mídia diretamente vinculada as relações sociais virtuais que surgiram na internet nos últimos 15 anos, e seu conteúdo está umbilicalmente ligado à participação do autor nas redes sociais virtuais. O que o autor publica, seja no blog, seja no facebook ou no twitter irá compor sua persona nessas redes.

lyke2drink.blogspot.com

No grupo de signatários da Carta de Intenções dos Blogueiros Brasileiros de Cerveja encontram-se blogs de muitos perfis diferentes. Desde pequenos blogs de degustação até websites de notícias do mundo cervejeiro. A maioria faz apenas por hobbie, mas muitos já tem sua vida profissional diretamente atrelada ao tema de seus blogs.

O tema da ética foi questão central na elaboração da carta. A ética do uso comercial dos blogs, via publieditoriais, foi resolvida com a redação deste artigo:

"Os integrantes do BBC passam a assumir perante o público os seguintes compromissos:

A retórica deste parágrafo pode parecer simples e direta à primeira vista, mas com um olhar mais cuidadoso logo percebe-se o vazio de tal compromisso. "Nos comprometemos a não fazer tal coisa, porém, quando fizermos, avisamos". Na mesma frase eles assumem um compromisso ético, mas dizem que em determinadas situações (leia-se quando pagarem) ele não será válido, quando isso acontecer deve-se avisar ao leitor. A forma como está escrito passa a impressão de que eles não pretendem vender a sua opinião, mas se porventura algum dos signatários o fizer ele não romperá com o compromisso, desde que assuma claramente. Não é bem assim: diversos membros deste grupo oferecem abertamente a venda de publieditoriais em seus blogs/sites, com tabela de preço e tudo! Se eles já sabem que esse compromisso só será válido as vezes, não seria mais coerente assumir apenas a segunda parte?

É verdade que também tenho outros motivos para não assinar esta carta. Não acho que os blogueiros precisem formar um grupo, coletivo ou associação para obter maior credibilidade ou visibilidade junto ao setor, a credibilidade de cada um é conquistada individualmente. Também não me interesso em publicar pautas conjuntas eventualmente, prefiro a variedade à unidade. Tampouco me sinto confortável em associar minha imagem a blogueiros que trabalham para importadoras, lojas ou bares, afinal o único diferencial deste blog é minha independência como blogueiro-consumidor para elogiar e criticar esses mesmos negócios.

quarta-feira, 21 de março de 2012

O Mosto Legal - Botequim do Cesinha

A onda dos botecos chiques em São Paulo é uma praga difícil de evitar. Por todos os bairros boêmios da cidade o cheiro da fumaça gordurosa saindo de uma picanha na chapa pode ser sentido. Chope de qualidade duvidosa e caipiroskas de frutas vermelhas são servidos aos montes em ambientes cenograficamente rústicos. Eu sei, sempre podemos escolher frequentar um botequim legítimo, tomar uma Brahma de garrafa, esperar o álcool fazer efeito até ter coragem de encarar a coxinha oleosa e depois o banheiro pantanoso. Eu, pessoalmente, não tenho mais estômago para isso.

Nunca tive interesse em conhecer o Botequim do Cesinha (Rua Delfina 66, V. Madalena - São Paulo), apesar de conhecer a boa fama e ser perto de casa. Grande erro da minha parte, que foi corrigido graças a um bom amigo, frequentador de lá.



O Botequim do Cesinha é um boteco à moda antiga, mas com alguns diferenciais importantes. O ambiente é simples, está instalado na garagem da casa do proprietário e o próprio Cesinha que te atende. A surpresa está na hora de escolher qual cerveja tomar: o cara tem uma seleção invejável entre nacionais e importadas, sem negligenciar as "ambevarianas". No dia que estive lá tomei a fantástica Brakspear Triple e, mesmo sentado em um banquinho na calçada, fui servido com a taça ideal. Lá no botequim não tem cozinha, em compensação ele serve uma bela porção de frios de boa qualidade e preço justíssimo, além de um sanduíche de rosbife caseiro (mesmo) imbatível. Ahh, não posso esquecer de outro detalhe que o destaca de qualquer outro boteco, chique ou não. No som apenas jazz e blues.

Mesmo estando tão desgostoso do panorama dos bares cervejeiros em São Paulo, o Botequim do Cesinha, além de ser minha mais nova referencia no bairro, demonstra que cervejas importadas e artesanais também combinam com simplicidade.

P.S: Na hora de ir embora o Cesinha me avisou que está saindo de férias e o bar ficará fechado. Se quiser conhecer lá, espere umas duas semanas.




terça-feira, 13 de março de 2012

Lugar de boa cerveja em SP não é no bar - O Melograno

O Melograno - Forneria & Empório de Cervejas abriu as portas na mesma época que comecei a me interessar por cervejas fora do comum, a pouco mais de 3 anos. Para a minha sorte o estabelecimento fica a apenas 3 quadras da minha casa, evidentemente que já fui muito lá. Neste tempo já pude conhecer muitas outras casa especializadas em cervejas especiais em São Paulo e posso dizer que o Melograno é o melhor exemplo de como esse setor se desenvolveu por aqui.



O nome já deixa claro que o Melograno não é bem um bar, o desavisado que entra pode muito bem confundir com uma pizzaria, afinal há até um forno a lenha nos fundos, além pizzas e paninis no cardápio. O ambiente também pouco lembra o de um bar, mesmo com toda memorabilia cervejeira exposta. Até existe um pequeno balcão na entrada, porém é subutilizado e pouco convidativo.

A casa já ganhou diversos prêmios como melhor carta de cerveja de São Paulo, mas fica claro que o juri não levou em consideração a oferta de cervejas na pressão, que não passa de quatro torneiras. Não há promoções de chope e pouco se vê clientes bebendo chope, para piorar muitas vezes ele é servido em mal estado de conservação. O serviço é o que mais faz lembrar um bar. Muito simpática, hoje em dia a garçonete já me chama pelo nome e sabe o que eu bebo.

O Melograno também se destaca pelos eventos que promove. Além de eventuais jantares harmonizados, a casa faz muito bem de movimentar as segundas e terças-feiras com ótima música ao vivo, nada de bandas classic-rock ou cantores banquinho-e-violão. Enquanto outras casas, mesmo nos dias mais movimentados, me obrigam a pagar couvert artístico quando quero apenas beber boa cerveja, o Melograno faz a proeza de oferecer bons shows gratuitos em formato "pocket" aos clientes dispostos a sair de casa numa segunda.



Apesar de muito conhecido, o Melograno nunca foi parada obrigatória da comunidade cervejeira paulistana. A grande maioria prefere ir ao Empório Alto dos Pinheiros. O comentário mais comum é que os preços do Melograno são mais altos, mas eu acho que não é só isso. Boa oferta de cervejas na pressão e promoções são o melhor gancho para fidelizar a clientela aficionada por cervejas especiais. Parece que a casa nunca mirou nesse filão, ao invés disso, até hoje a grande maioria do público do Melograno se divide entre curiosos inexperientes tentando decifrar a carta de cervejas e os que nem tentam, pedem logo uma Antarctica Original.

A verdade é que o Melograno não difere muito de muitos outros estabelecimentos que abriram na cidade nos últimos anos, carregando no nome ou sobrenome alguma referência às cervejas especiais (ou artesanais, ou qualquer outro apelido da boa cerveja). São sempre casas que apostam na neofilia da clientela e na imagem sofisticada dessas cervejas para atrair consumidores das classes A e B. Bares cervejeiros, como os que tem aberto no Rio de Janeiro, em Curitiba e Porto Alegre, com serviço e atmosfera de bar, repletos de torneiras, dispostos a viver de vender cerveja e chope artesanal, aqui em São Paulo ainda não há.

terça-feira, 6 de março de 2012

Verão não é a estação da boa cerveja

Recentemente desenterrei um artigo do mestre americano Charlie Papazian que relata a péssima logística cervejeira no Brasil, tida como vilã da boa cerveja. Ele cita o hábito do comerciante, de gelar apenas as cervejas que pretende vender nas próximas 48 horas, como problemático. Manter barril de chope em temperatura ambiente até a hora de servir também não ajuda nada, segundo ele.



Domingo de sol, depois de uma partida de tenis até encarei uma Antarctica Original com os parceiros. Já não vejo graça nenhuma nessa cerveja, mas desta vez foi muito pior. Tinha gosto de cabo de guarda-chuva enrolado em papelão molhado, além de um leve azedume. Nem os conservantes conseguiram salvar a cerveja.

Neste verão ainda não tomei chope Bamberg, porém no verão passado das três vezes que tomei chope Bamberg Pilsen, em duas o chope estava passado. Barril de chope bom merece ser tratado com mais carinho do que 30ºC à sombra. Buscando na memória creio que praticamente todas as cervejas passadas, baleadas ou estragadas que já tomei foram durante a estação mais quente do ano. Coincidência ou não, foi nesta época que tomei diversas Colorado Indicas sem aroma, Karavelle Red Ale azeda e até as Antarctica Originais com gosto de papelão. Por vez ou outra o fabricante até tenta contornar a reclamação com uma cerveja nova, mas a verdade é que este problema ultrapassa o alcance das cervejarias.

Caminhões sem refrigeração que viajam durante horas sob o sol forte, além de depósitos abafados, podem detonar qualquer cerveja. Nem mesmo as IPAs, que segundo o bom marketing cervejeiro, deveriam sobreviver até a uma viagem para à Índia, aguentam o nosso verão. Tenho a impressão que falta carinho com o produto, mesmo daqueles que se dizem especialistas. Tem um famoso empório aqui de São Paulo que sempre deixa um carregamento de cervejas pegando mormaço na entrada da loja, só para chamar a atenção da clientela.

O verão tem sido um inimigo implacável da boa cerveja. Na estação de maior demanda é quando tenho tomado as piores cervejas. Nem aditivos químicos, nem pasteurização, nem "IPAzação" tem salvado as cervejas da deterioração. Tá na hora de distribuidores e comerciantes darem um passo adiante e tratarem a boa cerveja com o cuidado que ela merece!

quinta-feira, 1 de março de 2012

O caô da vez

Até eu já cansei de escrever sobre este assunto, mas uma vez começado preciso ir até o final. Ontem enquanto tomava uns chopes na Cervejaria Nacional, descobri que eles agora estão vendendo cervejas importadas do portfólio da importadora Tarantino. Ao pegar uma garrafa da cerveja Anderson Valley ESB a venda na cervejaria reparei que, diferentemente do que havia relatado no post "Cervejas americanas e data de validade - Um ano depois", havia duas etiquetas de identificação: uma com os dados da importadora e do fabricante e outra com a data de fabricação. Até aí parece que está tudo certo. Minha surpresa foi (ok, nem tanto assim) descobrir que a data de fabricação impressa na etiqueta da importadora não coincide com a data de engarrafamento impressa pelo fabricante no vidro. Existe uma diferença de 2 meses entre as duas datas. Vejam as imagens abaixo:




O código impresso na garrafa (primeira imagem) é 11262. Segundo o site americano Fresh Beer Only! esse código indica que a cerveja foi engarrafada no 262º dia do ano 2011, de acordo com o calendário juliano esse foi o dia 19/setembro/2011. Para conhecer o calendário juliano clique aqui.

Observando as imagens fica claro que a data indicada pelo fabricante não coincide com a data indicada pelo importador. Acho que quem fabricou a cerveja sabe melhor do que ninguém em que data isso aconteceu. Fiquem de olho no caô !

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Convenção de blogueiros: e se brinde virar convenção?



Muito se fala sobre o papel dos blogs na difusão da cultura cervejeira. Esse termo "cultura cervejeira" já está até bastante malhado, virou inclusive marca registrada de uma cervejaria mais esperta. Posso dizer por mim: não faço o blog com a pretensão de difundir a cultura cervejeira, minha intenção é bem outra:  fomentar o mercado cervejeiro, da perspectiva do consumidor. Diferente do que alguns pensam, entendo que o consumidor é um dos agentes do mercado, consumidores conscientes e bem informados favorecem o fortalecimento do mercado cervejeiro.

Diversos colegas blogueiros de cerveja convocaram uma convenção com o intuito de formar uma associação. Acho que é muito difícil juntar blogs com visões tão diferentes em uma associação sem que essa favoreça um dos lados. Não vejo sentido em participar de uma associação ao lado de blogueiros diretamente associados a cervejarias e importadoras ou que vivem de publieditoriais (mais conhecidos como jabá).

Um dos temas que será debatido na convenção é o da ética na informação. Querem estabelecer parâmetros e regras para o recebimento, por parte dos blogueiros, de brindes (cerveja de graça, óbvio) e convites para viagens (com tudo pago, óbvio).



Outro dia escrevi no Twitter que havia comprado novamente uma Indica baleada. Dias depois recebi um email da cervejaria se dispondo a me enviar uma garrafa nova.  Exatamente hoje que escrevo esse texto, recebi, pela segunda vez em menos de 3 meses, um brinde da Cervejaria Colorado. Foi uma caixa com duas garrafas de cervejas, a Indica e a Vixnu. Cerveja boa e de graça? Não sou louco de rejeitar, porém fica um incômodo.

Por mais que eu tente ser imparcial, depois de receber tanto presente da cervejaria será que minha opinião a respeito desta empresa mantem a mesma isenção de antes? Toda vez que fizer um comentário negativo a respeito de um produto da cervejaria eles irão me mandar um presente? Logo, pode parecer que sou ingrato ou que estou fazendo fumaça apenas para ganhar mais cerveja de graça. Essa atenção toda é porque sou um blogueiro renitente ou qualquer consumidor recebe a mesma atenção? Com ferramentas de comunicação como o Facebook e o Twitter qualquer reclamação pública pode ter uma repercussão inesperada, nem precisa ser blogueiro. Será que a cervejaria dará conta de apaziguar a todos?


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Cervejas importadas e suas incríveis promoções

Sempre me espanto com as incríveis promoções que só acontecem com cervejas importadas. Não é fato raro aparecerem promoções com descontos de 50% ou mais. Ontem mesmo o Pão de Açúcar ofereceu 50% de desconto em uma dúzia de marcas importadas.  Fico admirado quando vejo isso, até porque é raro no ramo de bebidas e alimentos importados, só acontece frequentemente com cervejas. Nunca vi descontos dessa proporção para chocolate belga, macarrão italiano, azeite espanhol nem vinho chileno. Mas o que será que o mercado de cervejas importadas tem de diferente?

Eu sei que entre alimentos e bebidas importadas a cerveja é o produto com os prazos de validade mais curtos. É comum cervejas importadas chegarem às prateleiras com menos de um ano de vida útil. Ainda assim me parece um prazo razoável para vender alguns milhares de cervejas. Mas infelizmente ainda tem muita cerveja importada que encalha nas lojas.

O mercado de cervejas importadas não parece estar encolhendo, afinal sempre tem novidade no setor e mais pontos de venda aparecendo. Se as importadoras não estão tomando um prejuízo atrás de outro, é sinal que aquele monte de cerveja sendo liquidada por baixíssimos preços já está de certa forma paga. Mas quem pagou? Provavelmente quem comprou a cerveja importada pelo preço cheio. Desconheço as margens de lucro do ramo, mas fica aparente que há muita margem para redução de preços. Será que preços menores diminuiriam o encalhe?

Agora já ficou claro que se a cerveja é nacional todos a querem o mais fresca possível, mas se for importada de uma cervejaria hypada esse papo de frescor vira frescura. Assim, consumidor antenado (ou duro) espera a cerveja importada ficar velha para comprar pelo melhor preço.



sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Cerveja viva ou morta ?

A moda agora no mercado nacional de cervejas artesanais é fabricar cervejas vivas. Essas são cervejas engarrafadas, mas não pasteurizadas, e devem ser mantidas sob refrigeração todo o tempo para não estragarem. As cervejas das gaúchas Abadessa e Seasons são assim e em breve a Vixnu da Colorado também. Evidentemente essas cervejas são mais frescas e por causa da logística refrigerada, também mais caras.


Algumas cervejas importadas disponíveis no Brasil também são assim, não pasteurizadas, porém como também dependem de refrigeração constante, já devem estar mortas quando chegam nas prateleiras daqui. As cervejarias Anderson Valley, Rogue e Brewdog estampam em suas embalagens e seus sites com orgulho: "Não pasteurizamos nossas cervejas" ou " mantenha sob refrigeração". Eu já vi para vender produtos dessas cervejarias em diversos pontos de venda e posso dizer que não estavam armazenadas da forma correta para produtos tão frágeis. Todavia, tomei delas e não estavam perdidas, provavelmente estariam bem melhores se tomadas no país de origem, mas ainda não fui até lá para conferir.

O que me pergunto agora é se esse cuidado todo com as cervejas não-pasteurizadas é frescura para encarecer  as nacionais, ou se é desleixo com as importadas?


terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Cervejas americanas e data de validade - Um ano depois

Um ano atrás descobri que as cervejas importadas que mais gostava, produtos das cervejarias americanas Anderson Valley e Flying Dog, estavam tendo a data de validade alteradas para o mercado brasileiro. Publiquei uma denúncia no fórum do site Brejas e a partir dali a história correu toda a comunidade cervejeira local. Tive o cuidado de entrar em contato com as cervejarias, ambas confirmaram que as cervejas estavam sendo vendidas para além do prazo estipulado pela fábrica. Quem gosta de cervejas americanas deve ter ficado sabendo da consequência dessa história. Logo após a polêmica, a cervejaria Flying Dog interrompeu o envio de cervejas ao Brasil. Para conhecer melhor os detalhes dessa história leia esses artigos aqui e aqui, e a minha correspondência com as cervejarias Flying Dog e Anderson Valley.


Passado um ano, resolvi investigar como a importadora está lidando com as cervejas americanas do seu portfólio. Recentemente voltaram ao mercado, via importadora Tarantino, cervejas da Anderson Valley Brewing Company e da Rogue Ales. Comprei na loja Cervejoteca, em São Paulo, uma Anderson Valley Imperial IPA e uma Rogue Amber Ale e fui logo olhar o rótulo da importadora para saber a validade. E não é que a importadora mudou a forma de lidar com as cervejar americanas? Agora eles estão vendendo as cervejas sem validade alguma.

Nos EUA as cervejarias não são obrigadas a determinar uma validade para a cerveja, apesar disso existe um movimento de consumidores americanos querendo obrigar as cervejarias a datar suas cervejas. Querem que, ao menos, as cervejas tenham impresso a data de engarrafamento, assim o consumidor pode decidir se vale a pena comprar. É o que faz a Anderson Valley, que tem a data em calendário juliano impresso na garrafa. A Rogue nem isso, não há data nenhuma no rótulo ou na garrafa.

Mesmo sabendo que, legalmente, todos os alimentos importados para o Brasil devem ter data de validade e o rótulo traduzido para português, eu acho que no caso das cervejas americanas importadas pela Tarantino, a ausência de selo com a validade é um avanço. É muito melhor a falta de informação do que informação enganosa. Se antes estavam adulterando a validade agora estão apenas sonegando informação. Já melhorou!








quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Heineken - Qual embalagem tem vantagem?

Heineken é a minha lager de batalha. Ótima para beber descompromissadamente, em casa ou no parque. Custa quase o mesmo que as lagers aguadas feitas de milho, mas é puro malte, sem aditivos, e tem o amargor que as outras ignoram.

A cerveja Heineken é vendida nos supermercados em quatro embalagens diferentes. Apenas a long neck (355ml) é de fabricação nacional, as outras três (lata 350ml, garrafa 650ml e barrilete 5L) são importadas da Holanda. O supermercado onde encontrei as quatro versões à venda pelos melhores preços foi o Dia da rua Teodoro Sampaio, aqui em São Paulo. Os preços foram os seguintes:
  • Long neck nacional 355ml - R$1,99 ou R$5,61 por litro
  • Lata importada 350ml - R$1,79 ou R$5,11 por litro
  • Garrafa importada 650ml - R$3,29 ou R$5,06 por litro
  • Barrilete importado 5L - R$49,99 ou R$10,00 por litro




O primeiro fato curioso é que a Heineken de fabricação local é mais cara que a importada, em lata ou garrafa. O segundo é que o vasilhame com maior volume (barrilete) tem a cerveja mais cara. Sei que muita gente tem fetiche por esses barriletes, tem até beer sommelier famoso elogiando, mas a verdade é que é a mesma cerveja que está na lata: Heineken de fabricação holandesa, sem lightstruck. Mas para tomar Heineken do barrilete paga-se quase o dobro.

O bom bebedor de Heineken sabe que essa cerveja varia muito dependendo da embalagem. A Heineken em garrafa verde tem um fedor característico, que até esconde um pouco do dulçor do malte.  Isso é causado pela ação da luz sobre as algumas moléculas provenientes do lúpulo.
Tem quem prefira a Heineken da garrafa verde, com lightstruck, eu prefiro sem, então costumo comprar em lata. Para minha sorte, a Heineken de lata, mesmo importada, é a com menor preço unitário, apesar de não ter o melhor preço/litro no supermercado consultado. Inclusive o preço da garrafa 650ml está cerca de R$1,00 abaixo do que costumava encontrar meses atrás. Será liquidação do supermercado ou o preço baixou mesmo ?

Eu acho essa variação de preços toda muito estranha, mas fica claro que neste caso o preço da cerveja não varia de acordo com o custo da embalagem ou da logística. A lógica dos preços é outra, varia apenas de acordo com a preferência dos consumidores por certas embalagens. Como aqui em casa a embalagem vai para o lixo, o que eu consumo é apenas a cerveja, vou continuar comprando a Heineken em lata.


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Eisenbahn sem concorrência

Experimentar as cervejas da Eisenbahn foram o meu primeiro passo fora da caverna cervejeira. Elas estão a mais tempo presentes nas prateleiras dos supermercados paulistanos do que qualquer outra cerveja artesanal, pelo menos fora do universo das pilsen aguadas. Antes eram as únicas e hoje as mais acessíveis.


No meio cervejeiro, sejam em blogs, sites ou redes sociais fala-se pouco das cervejas Eisenbahn. Não é a cervejaria mais popular nem a mais comentada. Até entendo porque, mesmo bebendo essas cervejas frequentemente, não são as minhas favoritas. Não fazem IPA nem lançam novos rótulos, mas são um porto seguro para o meu dia a dia.

As cervejas Eisenbahn tem uma posição única no mercado cervejeiro: Figuram praticamente sozinhas na faixa dos R$4. Abaixo delas estão todas aquelas lagers das grandes cervejarias, acima todas as outras cervejas artesanais. Entre as cervejas artesanais em garrafas de 350ml não existem tantas outras opções, e geralmente acima dos R$6.  Por cerca de R$10 há mais de uma dezena de cervejas em garrafa de 600ml, aí a disputa é grande, nos mais diversos estilos.

Vou repetir o que já havia escrito neste blog anteriormente: Há cervejarias artesanais que confiam mais nos prêmios que irão ganhar do que na venda que podem obter. A Cervejaria Eisenbahn já ganhou muitas medalhas em concursos internacionais, mas hoje em dia nem tanto. Suas concorrentes tem tido mais sucesso internacional nos últimos tempos. Honestamente prefiro tomar sempre uma boa cerveja sem medalha do que degustar esporadicamente uma cerveja medalhada. O consumidor prefere bom custo/benefício à medalhas no rótulo, e nesse quesito a Eisenbahn é imbatível.

O pessoal cervejeiro adora divagar sobre o dia em que o mercado de cervejas artesanais amadurecer, como o norte americano. Eu digo que o nosso mercado artesanal terá amadurecido quando a faixa dos R$4 for a mais disputada nas prateleiras de empórios e supermercados.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Tá difícil tomar chope artesanal em São Paulo!

Na imensa maioria dos bares de SP chope e Brahma praticamente formam uma só palavra. Porém chope não é sinônimo de cerveja aguada. Qualquer cerveja servida na pressão pode ser chamada assim. Mas onde estão os chopes artesanais?



Eu sei que trabalhar com chope artesanal não é fácil. A margem de lucro não é lá grande coisa, o produto estraga logo, a chopeira e os barris são um trambolho. Muito mais fácil é vender cervejas engarrafadas. Mas como fica o consumidor que presa pela sua cerveja bem fresca? Vai ter que camelar atrás do seu chope e ainda corre o risco de tomar cerveja azeda. Porque se não bastassem as dificuldades, tenho a impressão que mesmo os bares que se arriscam a vender chope artesanal não trabalham o produto como deveriam.

Na rua dos Pinheiros há um bar que gosto muito chamado Damis. Montado em um prédio antigo de esquina, tem um ar roqueiro decadente, meio Treze de Maio nos anos noventa. Servem um bom hamburger e chope Eisenbahn Weizen, Pale Ale e Dunkel. Um pint por R$10 é um bom negócio, mas o difícil é o chope estar fresco, mais comum é estar meio azedo. Mas também pudera, sempre que vou lá sou o único tomando chope, todas as outras mesas bebem Original. Como o dono do bar pretende vender dezenas de litros de chope antes que estrague se ele oferece outra opção mais barata e popular. Se quer trabalhar com chope ele tem que ser seu carro-chefe, ao menos no que se refere a bebidas, senão vai vender chope azedo.

Há cerca de um ano, na rua Mourato Coelho, abriram um bar chamado Miró. Infelizmente não durou muito, em menos de um ano fechou. Não sei qual era o público que eles pretendiam atrair, mas a carta de cervejas era das mais estranhas. Todas as cervejas eram do portfolio da importadora e distribuidora Bier & Wein. Tinha de tudo, até lambic, mas cerveja nacional apenas Paulistânia e Conti Premium. A carta de cervejas em garrafa nem era o pior. Estranho mesmo eram às servidas na pressão. Havia quatro opções, todas importadas, inclusive uma pilsener alemã por R$9 a caldereta. Com tantos bons chopes artesanais sendo distribuídos em São Paulo, não entendo qual é a desse fetiche por chope importado. Se nem as cervejas em garrafa importadas estão no auge do seu frescor quando chegam ao nosso mercado, o que dizer dos chopes importados?




A Cervejaria Bamberg, de Votorantim/SP, tem boa distribuição na capital e um portfólio incrível. Diferentemente de outras micro-cervejarias, a Bamberg privilegia o chope, ao invés da garrafa. Isso é fácil de perceber se compararmos os preços praticados por eles e por outras cervejarias artesanais. A Bamberg tem disparada a melhor relação de preço chope/garrafa. Mas infelizmente se quiser provar todo seu incrível portfólio de chopes vai ter que colocar uma chopeira em casa. Em São Paulo,  para além dos batidos pilsen e weizen,  há apenas um estabelecimento, que nem bar é, oferecendo os chopes Bamberg.

O fio de esperança para quem aprecia o bom chope está no único brewpub da capital, a Cervejaria Nacional. O preço do chope ainda assusta um pouco, já que o pint chega a custar R$15. Mas a cerveja é boa, é fresca e é local. Na falta de opções é para lá que eu vou !